Mónica Rocha apresentou esta quarta-feira à Assembleia Legislativa dos Açores, em nome do PS/Açores, o seguinte voto de congratulação, aprovado por unanimidade, que se transcreve na íntegra:
VOTO DE CONGRATULAÇÃO
100 ANOS DA DELEGAÇÃO DA CRUZ VERMELHA DE ANGRA DO HEROÍSMO
Falar nos 100 anos da Delegação da Cruz Vermelha de Angra do Heroísmo exige a exultação do espírito de Ser Cruz Vermelha. Espírito que nasce das desventuras deste nosso mundo, sob a forma de graves crises humanitárias. Ao longo de mais de 150 anos, homens e mulheres despojados de interesse e com verdadeiro sentido de voluntariado socorreram doentes e feridos, saciaram fome e sede, tudo numa tentativa de dar ou devolver alguma paz e serenidade a todos aqueles que por motivos alheios à sua vontade se tornaram vítimas.
E ainda hoje, é este fazer pelo bem e para o bem das nossas comunidades que define e dignifica o trabalho das demais delegações espalhadas por todo o Mundo. E a história da Delegação da Ilha Terceira não foge à regra muito pelo contrário.
Numa breve resenha histórica, gostaria de realçar alguns momentos importantes destes 100 anos de cruz vermelha.
A 1917, fruto da vontade dos sócios da Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha, Thomé de Castro, Alfredo da Silva Sampaio, Manuel Augusto dos Reis e Jácome de Bruges, surgiu a iniciativa da criação de uma Delegação da Cruz Vermelha em Angra do Heroísmo, os mesmos, e para o devido efeito, constituíram-se como comissão instaladora.
Esta comissão decidiu apresentar à Assembleia de sócios, reunida em 10 de fevereiro de 1917, e constituída por um número superior a 30, uma proposta para pedir a formação de uma Delegação da Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha dadas as vantagens que poderiam advir para o distrito, fundamentada no nº 25 da Organização Geral dos respetivos serviços e na presença de uma oferta de um particular para a aquisição de uma ambulância, equipamento que serviria naturalmente para apoiar os feridos de guerra que chegavam aos nossos portos e para o transporte de doentes. Esta foi, durante muitos anos a principal função e serviço social que a delegação prestou à nossa comunidade.
E assim nasceu a Delegação da Ilha Terceira, emanando espírito de entreajuda e solidariedade.
No dia 13 de Junho de 1917, foi então criada a Delegação da Cruz Vermelha em Angra do Heroísmo, após aprovação pela Comissão Central da Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha.
A primeira Direção da Delegação da Cruz Vermelha Portuguesa de Angra do Heroísmo foi presidida pelo Tenente-Coronel Luís da Silva Alves, sendo os restantes elementos Guilherme de Sousa Enes, João Moniz de Sá Corte-Real dos Santos, Casimiro Duarte de Sousa, José Narciso Parreira Coelho, Carlos Rodrigues de Sousa, António José da Silva Carvalho, João Manuel Martins e Carlos Teixeira de Azevedo.
De referir, que por motivos que só os homens e mulheres de então poderiam testemunhar, desde agosto de 1918 e até ao ano de 1943 não são encontradas quaisquer referências e documentação referentes à atividade da Delegação, e o mesmo sucede entre os anos de 1946 a 1975.
Em 1943 a Delegação da Cruz Vermelha de Angra do Heroísmo é reativada, sendo seu presidente Eliseu Pereira Pato François, que desempenhou o mandato até 1946.
A partir de 11 de agosto de 1972, data em que tomou posse nova Direção e as demais que se seguiram, a Delegação foi desenvolvendo as suas atribuições e competências desta feita um pouco mais abrangentes, nomeadamente no apoio a pessoas carenciadas, recolhendo e fornecendo bens alimentares, roupas e afins. Neste mesmo ano, foram criados os Núcleos da Cruz Vermelha de Santa Cruz da Graciosa e da Calheta de São Jorge, por proposta da Direção presidida pelo Dr. Viriato Machado da Costa Garrett, no mandato iniciado em 22 de março de 1976.
A 19 de fevereiro de 1987 é nomeada nova direção, sendo o presidente o Dr. Idondino de Vasconcelos. O mesmo liderou e assumiu os desígnios e funções da delegação durante 29 anos, mostrando-se como o presidente com mais mandatos. Só em 2005, e por motivos de doença, foi exonerado do cargo, tomando posse Ana Paula Valadão dos Santos Garret Sousa Gomes, mantendo o cargo até 2008. Ao longo deste período de tempo, importa referir que a estrutura da delegação foi se mostrando mais organizada e consolidada quer em termos de equipamentos quer em termos de recursos humanos, reforçando e suportando a sua intervenção social e humanitária. Muitos são os testemunhos de todos aqueles que num momento ou outro se socorreram desta instituição, e são estes que validam a necessidade e relevância da mesma.
Em 2015, a Direção Nacional da Cruz Vermelha decide criar os Centros Humanitários, com novas atribuições, tendo sido criado o Centro Humanitário de Ponta Delgada, que passa a deter a tutela do Centro Humanitário da Ilha Terceira, por extinção da Delegação existente.
Esta reformulação provocou o abandono de 62 voluntários da Cruz Vermelha de Angra do Heroísmo, a desativação da Unidade de Socorro e todas as demais parcerias de cooperação existentes, designadamente, a com o Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores, no âmbito da formação, exercícios conjuntos e treino para a aptidão de todos os voluntários para eventuais situações de catástrofe, sem esquecer as outras ações humanitárias até então em prática.
O Centro Humanitário da Cruz Vermelha de Angra do Heroísmo só não entrou em falência total e encerrou definitivamente, por intervenção e ação decidida do Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, que chegou ao ponto de garantir o pagamento dos vencimentos dos cinco funcionários existentes e durante alguns meses, como a recuperação de uma (agora única) das quatro ambulâncias, bem como para a continuidade do Banco de Ajudas Técnicas.
Todavia e apesar de todos estes constrangimentos, a 24 de janeiro de 2017, um grupo de angrenses com vontade redobrada e espírito de entrega organiza-se e assume conduzir o processo de reorganização da Delegação da Cruz Vermelha Portuguesa de Angra do Heroísmo. Contando já com 30 voluntários, irá passar a ocupar novas instalações, cedidas e remodeladas pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, e reativar as suas atribuições, competências e cooperação com os anteriores parceiros. Podendo, só assim, reforçar e implementar aquela que é a missão da Cruz Vermelha na sua essência. Mostrando assim que cada um de nós pode fazer a diferença envolvendo-se numa ação positiva nas nossas comunidades.
A história destes 100 anos mostra nos que é na expressão livre de uma cidadania plena e solidária que conseguimos um bem comum, que conseguimos reforçar a necessidade de entrega ao outro em tempos menos felizes.
A todos os que fizeram e farão a história da Delegação da Cruz Vermelha de Angra do Heroísmo o nosso muito BEM HAJAM.
Desta feita, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista ao abrigo das disposições regimentais em vigor, propõe à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, reunida em sessão plenário no mês de junho, a aprovação do Voto de Congratulação pelos 100 Anos da Delegação da Cruz Vermelha de Angra do Heroísmo, e que este Voto seja dado a conhecer à Direção Nacional da Cruz Vermelha Portuguesa, ao Presidente da Direção da Delegação da Cruz Vermelha de Angra do Heroísmo e ao Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.