Entrevista do Deputado Francisco Coelho ao Diário Insular

PS Açores - 24 de maio, 2019
O Turismo afunda-se na Terceira a olhos vistos. Como se chegou a este ponto? Começo por constatar a preocupação com o incremento do turismo subaquático…  Para sabermos onde estamos, urge atentar onde estávamos há poucos anos – sem confundir a realidade com estados de alma e evitando a desmemória seletiva. Até 1996, o Turismo era entre nós incipiente, embora já enfeitasse alguns papéis oficiais. Fenómeno complexo e multifacetado, dependente dum conjunto de fatores que a nossa realidade agrava, como a maior dificuldade/preço das acessibilidades, no Turismo tudo estava por fazer... A aposta no Turismo, que nunca visou substituir as fileiras tradicionais da produção leiteira e da carne, tem requerido um forte empenhamento das entidades públicas, no sentido de se criarem infraestruturas de alojamento, mais e competitivas acessibilidades a uma região arquipelágica, subsidiação dos reencaminhamentos inter-ilhas, forte aposta na promoção num mercado muito competitivo e volátil, formação e confiança no empreendorismo e na iniciativa privada. É claro que também na Terceira isso aconteceu, sendo de resto a segunda ilha dos Açores que mais proveitos tira do “boom” do Turismo. De forma direta e indireta. Porque a retoma que temos na construção civil e o inquestionável sucesso de algumas empresas de restauração, recorrendo aos nossos produtos de excelência como a carne e o leite e seus derivados, surgem numa cadeia lógica, em que a nossa economia tradicional também beneficia. Como chegámos a este ponto?  Na sequência de um projeto, sistémico, integrado e continuado, de aposta estratégica do Governo dos Açores, ao nível da regulamentação e do apoio ao investimento em infraestruturas, acessibilidades, transporte e promoção, em que a transportadora aérea regional desempenhou um papel fundamental de aposta, risco e consolidação, numa fase crítica e fundamental. E mesmo os zelotas da lamentação não deixam, ironicamente, de prestar homenagem à vitória desta estratégia, porque interiorizaram como indiscutível esta opção, e já só andam a discutir quantidade e a comparar com o tamanho do vizinho…   A economia da Terceira chegou a pensar no Turismo como uma possível solução para problemas crónicos que a afetam. Ainda haverá esperança ou começa a perder-se? É inegável que a Terceira agarrou e juntou-se a esta aposta, que não pode dispensar a iniciativa privada e individual. Comprovadamente, os terceirenses não ficaram na “doce esperança” … Investiram e investem, aos mais diversos níveis, desde o alojamento tradicional ao local, às empresas marítimo-turísticas e à restauração, à animação e ao turismo sub-aquático. É só ver! De resto, também sabemos todos as razões do decréscimo na última época de inverno: a suspensão da rota de Madrid, cuja retoma já foi confirmada.   São Miguel continua a crescer sobretudo por conta da canalização de turistas por via aérea um pouco por todo o mundo. Qual o segredo que a Terceira parece não conhecer? Apetece dizer: é a lógica da iniciativa privada… Amigo! As “low-cost” e a Delta, orientando-se por questões de mercado, em termos de número de voos e passageiros desembarcados, atenta a dimensão, oferta de produtos turísticos e infraestruturas logísticas, têm mais voos para aquela ilha… e logo a seguir para a Terceira, que é uma das duas ilhas dos Açores para onde voa uma empresa “low-cost”. Não se pode é glorificar a iniciativa privada só quando parece bom argumento para criticar empresas públicas… e depois exigir tudo a estas, porque sim!   Em sua opinião quais serão as razões – não as máscaras… -- que impedem que o Turismo se desenvolva na Terceira? O que sempre nos pode puxar para baixo, no Turismo como no resto, é a memória consoante e a auto desresponsabilização. Só uma real ponderação das coisas nos dará legitimidade para, responsavelmente, exigirmos mais.  E lembrar sempre uma regra dos Beneditinos: é proibido resmungar… No mais, é seguir o lema: orar e trabalhar! E temo-lo feito… apesar de alguns resmungos!