A pergunta que cada um de nós deve fazer, no dia 23 de Janeiro, quando for votar, é simples: o que é que Cavaco Silva fez de bom pelos Açores durante os muitos anos em que foi Primeiro-Ministro e Presidente da República?
Depois de cada um de nós responder a essa pergunta, deve fazer outra: devem os açorianos ter o ónus de se justificarem sempre perante as reservas de quem, à priori, olha com desconfiança para tudo o que nasce nos Açores?
Só respondendo a cada uma das questões é que cada açoriano pode votar em consciência para eleger o Presidente da República, por uma razão muito simples, o comportamento de Cavaco Silva, em relação aos Açores, foi sempre sinónimo de conflito e de questiúnculas políticas e autonómicas.
A questão não é partidária. Antes fosse. É bem mais grave do que isso.
As reservas mentais de Cavaco Silva sobre os Açores e a Autonomia foram bem evidentes quando o social-democrata Mota Amaral foi Presidente do Governo Regional dos Açores. E são, também, bem claras agora, com Carlos César à frente do Governo.
Cavaco Silva não se sente confortável com a Autonomia e ponto final. Está no seu direito, assim como estamos no nosso de o considerar o Presidente da República que mais prejudicou a imagem da unidade nacional, ao denegrir o projecto autonómico consagrado na Constituição, que tem o dever de cumprir e fazer cumprir. E pior do que isso, insiste em criar instabilidades e desconfianças sobre os Açores, mas é conivente com os atropelos institucionais, éticos e democráticos todos os dias promovidos pelo Governo Regional da Madeira.
Cavaco Silva desconfiou de tudo. Suspeitou da nossa lei eleitoral, que reforçou o pluralismo partidário na Assembleia, conjecturou sobre o nosso Estatuto, que consagrou competências que aspiramos durante décadas, prognosticou inconstitucionalidades na remuneração compensatória, mesmo antes de a conhecer em concreto. São três dos exemplos mais evidentes da sua actuação enquanto Presidente da República.
Por isso é que a campanha de Cavaco Silva nos Açores mais não faz do que tentar provar, sem sucesso, que o candidato até gosta da nossa Região, que toda a gente está errada na percepção que faz das suas declarações públicas sobre os temas relacionados com os Açores.
Aliás, Cavaco Silva tem passado os dias a dizer que ninguém entendeu o que ele disse ou a dizer que não diz nada a ninguém sobre o que se passa.
Por isso é que sentiu necessidade de vir aos Açores defender uma “Autonomia dinâmica”, como se isso dependesse dele. A “Autonomia dinâmica” depende, sim, dos açorianos que querem usar esse enquadramento constitucional como forma de resolver melhor os nossos problemas e de desenvolver, cada vez mais, a nossa Terra.
O nosso dinamismo em prol da defesa da Autonomia é na devida proporção das desconfianças que Cavaco Silva tem desta mesma Autonomia.
Nestas eleições presidenciais, vários candidatos já mostraram que valorizam a Autonomia Regional. Manuel Alegre destaca-se entre eles. Apresentou a sua candidatura em Ponta Delgada, visitou depois as ilhas do Faial e Terceira e, mais recentemente, São Miguel. Ou seja, veio três vezes aos Açores nos últimos meses. Não será pelos votos, já que o número de eleitores nos Açores, no cômputo nacional, é diminuto, mas sim por respeito e grande afinidade com a nossa terra.
Temos, por isso, de fazer uma terceira pergunta na altura de votar:
Quem respeita mais os Açores, Alegre ou Cavaco?
Num momento de crise e de austeridade nacional, caso Cavaco seja reeleito, não hesitará em fazer todos os esforços para impedir qualquer medida para amenizar os efeitos desta austeridade. Será que os açorianos querem a repetição da história?