Imaginando, quiçá, ser único e absoluto Cavaco Silva “atirou” mais uma das suas “verdades”: “Para serem mais honestos do que eu”, disse, “têm que nascer duas vezes”…
Podíamos, a propósito disso, intitular a crónica de hoje como “Cavaco Silva, o verdadeiro”, mas para fazê-lo precisávamos que ao longo da campanha tivesse comentado mais do que insultado com o seu silêncio uma série de factos, que tentou a todo o custo tornar plásticos, apagar ou mesmo reinventar.
Não basta pois jurar honestidade quando não se repõe a verdade e se preenche o silêncio do “não comento” com estas verdades cavaquistas.
Na recta final para as eleições de 23 de Janeiro – com notícias e mais notícias de dificuldades graves para todo o país, o recandidato Cavaco Silva tem tentado, por todos os meios, ignorar o facto de que tem passado, que esse passado o define e que ajuda a perceber, a quem quiser ver, todo o seu percurso.
Não precisamos que venha como veio aos Açores em campanha eleitoral fazer juras de amor eterno à Autonomia. Não é disso que se trata. O que precisamos como Povo que somos é de ter um Presidente da República que nos respeite, que respeite o nosso Estatuto Político Administrativo. Mais nada.
Mas, Cavaco Silva não perde uma oportunidade que seja para nos insultar e ignorar. Já o tinha feito no passado recente (com as declarações na Argentina), tornou a fazê-lo há dias, já depois de ter vindo aqui, em campanha eleitoral. Foi a Viana do Castelo e de lá sugeriu a criação do Ministério do Mar.
Até damos de barato que um candidato a Presidente da República sugira a criação de Ministérios (?) …O que não podemos deixar passar em branco, é tê-lo feito em Viana do Castelo por achar que é “difícil encontrar lugar mais apropriado para falar e ouvir falar sobre o Mar” do que Viana do Castelo.
Não é que seja invulgar que se esqueça dos Açores, nem tão pouco que já não seja um dado adquirido que nos ignore, mas não deixa de ser, mais uma vez lamentável…
Se Cavaco Silva fosse homem de mais do que “meias palavras” e códigos indecifráveis podíamos pedir-lhe que enfim se decidisse. Afinal será o Presidente da República do “Norte, do Centro e do Sul”? Afinal é mesmo o Presidente da República que se recandidata como disse a 16 de Janeiro (Domingo) de “Vila Real de Santo António a Valença”?
Se esclarecesse também isto – preto no branco – escusava de deixar aflitos os companheiros ilhéus, sempre à procura de provas de amor já dadas por Cavaco Silva aos Açores, como se fosse possível. À primeira oportunidade, cumprindo o ditado “longe da vista, longe do coração” Cavaco Silva dá o dito por não dito e quase parece dizer aos de cá que para serem melhores do que ele têm que nascer duas vezes (ou mais) …quiçá mudar de nome…
Cavaco Silva, por si, não mudará em nada. Há todo um passado que o define e que já não o modifica. Vive enfiado no seu casulo de verdades, ajeitadas ao traço das suas “máximas”.
Resta, agora, saber se os portugueses vão querer mostrar-lhe o avesso delas (das suas verdades). Seja como for só o voto nos dá força para fazê-lo. No dia 23 de Janeiro vamos todos votar.