Opinião

Uns e outros

A campanha presidencial passou esta semana pelos Açores. Os Açores receberam os candidatos presidenciais da mesma forma, mas um deles fez questão de não ser recebido nos Açores. É verdade que os Açores não são apenas os seus órgãos de governo próprio, mas são também. E é de elementar razoabilidade que os candidatos presidenciais cumprimentem simbolicamente as suas instituições, porque assim cumprimentam também simbolicamente todos os açorianos. Só uma absoluta reserva mental pode fazer com que se pense, e pior, se haja de forma diferente. Esta aparente omissão marca afinal uma posição. Que é clara, e que revela o homem por detrás do biombo do candidato. Cavaco Silva sempre teve, desde os tempos de Primeiro-Ministro, fortes reservas para com a autonomia. Este perfil não mudou. Acresce a isso que o senhor “não comento” convive mal com a democracia e detesta ter que enfrentar ambientes que lhe são, à partida, hostis. Mas não distingue, passado todo este tempo na vida política, o escorreito comportamento institucional das afinidades políticas. Mistura as coisas. E porque o faz desrespeita todos, mesmo os que o respeitam. Este perfil subtilmente tendencioso, que gere o silêncio e a omissão como arma de arremesso, é o mesmo que o fez comentar, rompendo com a sua própria tradição, a remuneração compensatória. Os Açores precisam de quem defenda a sua autonomia. Cavaco Silva nunca o fez, não o faz ainda agora. Prefere uma ilusória reserva que descamba não raro numa partidarite envieasada. Sinal de uma coragem rarefeita. E de uma atitude aparentemente isenta mas, afinal, seriamente comprometida. Os Açores e o país precisam de outro perfil na Presidência da República. Capaz de outra isenção e equidistância. Que não omita e silencie. Porque há neste silêncio um enorme ruído. Ensurdecedor para quem o conseguir ouvir.