Em política, por mais que alguns na prática não o queiram reconhecer, devemos ser sérios e honestos e responsavelmente assumir os efeitos das posições que defendemos, independentemente das mesmas terem tido vencimento ou não.
Durante os últimos tempos viemos a terreiro em prol da candidatura de Manuel Alegre à presidência da República. Fizemo-lo por que acreditámos e continuamos a crer que ele seria o melhor entre os melhores para assumir o mais alto cargo da Nação. Fizemo-lo como português e sobretudo como açoriano e defensor da autonomia constitucional que não pode nem deve ficar à mercê de centralismos e centralistas de fora e de dentro, tenham eles assento em Belém, em S. Bento ou nas Portas da Cidade de Ponta Delgada.
A maioria dos portugueses que manifestaram a sua vontade através do voto livre colocado nas urnas, decidiram que assim não deveria ser e, consequentemente, Cavaco Silva foi eleito à primeira volta, recebendo o voto de 52,94% dos portugueses e de 56% dos açorianos. Lamentavelmente, os níveis da abstenção foram os maiores de sempre neste tipo de eleição, atingindo 68.8% nos Açores, o que deverá constituir matéria de reflexão e de acção por parte de todos os agentes políticos. Apenas 1/3 dos cidadãos inscritos na Região exerceu o seu direito de voto!
Para que não haja quaisquer dúvidas, independentemente das análises políticas e sociológicas que se possam levar a efeito, o facto é que Cavaco Silva saiu vencedor e Manuel Alegre não atingiu os objectivos a que se havia proposto ficando muito aquém do resultado previsível.
Há que saber aceitar a derrota! Há que saber assumir a vitória!
Aqui, perante os resultados, é interessante constatar a atitude dos verdadeiros políticos e democratas. Enquanto Manuel Alegre teve a humildade de reconhecer a derrota, Cavaco Silva, em dois discursos separados por alguns minutos, não conseguiu esconder uma crispação desnecessária e divisionista em relação aos portugueses.
Por cá, vimos o Presidente do Partido Socialista, frontal e democraticamente a assumir a derrota de Manuel Alegre, não se escondendo atrás de subterfúgios. Carlos César aproveitou para declarar, aliás, como o sempre tem feito, que Cavaco contará com a oposição do Açores e dos açorianos sempre que estejam em causa os interesses da Região e da Autonomia. Assim tem sido em relação a Belém, assim o tem sido em relação a S. Bento… assim sempre será em relação a tantos, quantos queiram por em causa os direitos consagrados na Constituição e no Estatuto Autonómico!
Quanto a Berta Cabral, há falta de argumentos políticos que a promovam a nível regional, tentou, sem sucesso, extrapolar os resultados de uma candidatura unipessoal à Presidência da República para uma manifestação do povo contra o governo dos Açores. A ainda líder do PSD regional deveria aprender os bons exemplos de vivência democrática e de análise política. Que o não queira fazer com o exemplo de Carlos César, poderá ser aceitável e compreensível. Recomendamos que, ao menos, aprenda humildemente com o líder nacional do PSD, Pedro Passos Coelho que soube separar as águas ao afirmar que as presidenciais não eram, nem poderiam ser consideradas, as primárias das legislativas.
Mais uma vez, Berta Cabral, mostrou impreparação para uma liderança regional e uma desmesurada apetência para chamar a si os resultados positivos alcançados por outros agentes políticos.
Não esqueçamos que a mesma Berta Cabral, aquando a recente e estrondosa derrota infligida pelos açorianos ao PSD e à sua liderança nas eleições autárquicas, sacudiu a água do capote e afirmou, sem o menor pingo de solidariedade para com os companheiros de partido, que apenas havia concorrido à Câmara de Ponta Delgada pelo que não era responsável pelo monumental desaire eleitoral sofrido em toda a Região. A liderança de Berta Cabral no processo autárquico de 2009 consubstanciou-se na perda de inúmeras Câmaras, Assembleias Municipais e Juntas de Freguesia, para além da perda, para a liderança dos autarcas socialistas, da Associação de Municípios da Região Autónoma e da Associação de Municípios da ilha de S. Miguel.
Findas as presidenciais e com o aproximar de 2012, começa a ser por demais evidente o nervosismo do PSD e de uma liderança que cada vez mais se afirma limitada à rua de Santa Luzia e ao Largo da Matriz.