Opinião

O regresso ao passado

O princípio do fim. Esta parece ser a estratégia do Governo da República para a RTP/Açores, com a redução anunciada da sua emissão a umas meras quatro horas diárias, concentradas entre as 19 e as 23 horas. É, assim, um regresso à década de 80 do século passado, quando a RTP/Açores limitava-se a emitir à noite, com grandes constrangimentos técnicos. Este Governo de Pedro Passos Coelho, em poucos meses de funções, quer dar cabo de mais de duas décadas de evolução do nosso canal regional. Para mais quando o ministro Miguel Relvas anunciou esta medida de forma sobranceira, quase em ar de gozo, e sem dar cavaco aos órgãos de governo próprio ou mesmo aos trabalhadores da RTP/Açores. Não está provado que a diminuição das horas de emissão resulte numa redução de custos substancial do centro regional da RTP/Açores. Imaginemos o Telejornal: Quando vai para o ar, às 20 horas, é o resultado de toda uma máquina invisível ao telespectador que passou o dia a produzir os conteúdos, desde a parte da informação, passando pela área técnica e operacional. Ou seja, não será a concentração de horário de emissão que reduzirá custos significativos, porque o trabalho será o mesmo. Além disso, a estratégia do Governo da República enforma de um erro grave. Quando devia reestruturar a RTP/Açores e conformar o seu orçamento a uma nova realidade, faz exactamente o contrário. Define os cortes orçamentais e a RTP/Açores tem de se adaptar a esta nova realidade. O ministro Relvas não faz a mínima ideia quanto custa a deslocação de uma equipa de reportagem às Flores. Mais do que isso. Não faz a mínima ideia da importância desta reportagem para o espírito de comunidade insular que a RTP/Açores promove há décadas. Quase toda a oposição tem sido coerente nesta matéria, verdade seja dita. A excepção é o PSD/Açores. Factos são factos. Primeiro, a sua líder queria que fosse a Lei de Finanças Regionais a pagar a RTP/Açores. Depressa esqueceu esta proposta e nunca mais falou dela. Mais recentemente, o PSD/Açores apresentou no Parlamento uma Resolução que foi aprovada pelo PS, que defendia – e muito bem – ser “essencial assegurar, inequivocamente, um serviço público de rádio e televisão nos Açores garantido pelo Estado”. Mais. A mesma Resolução alertava, ainda, para os “preconceitos centralistas que teimam em perdurar em alguns gestores e políticos da República”. O PSD sabia bem o que a sua casa gasta. Todos estes considerandos estão absolutamente certos, assim como está a seguinte frase da Resolução: “nunca o serviço de televisão atraiu a iniciativa privada na Região”. Poucos meses depois, o PSD/Açores esqueceu o que escreveu pelo seu próprio punho e já acha que a solução passa por uma sociedade anónima, composta por capitais do Estado, da Região e de instituições da sociedade civil. Em Fevereiro, o PSD/Açores defendia que era um serviço de obrigação, inequívoca, do Estado. Em Setembro, já quer que passe para o Governo Regional e para privados. Em Fevereiro, escreveu que a televisão “nunca atraiu a iniciativa privada” regional. Em Setembro, quer criar uma empresa com participação privada. O que é que mudou? O Governo da República, agora liderado por Pedro Passos Coelho. O que não mudou? A incoerência do PSD/Açores e a sua total inabilidade na defesa dos interesses regionais.