À semelhança do acontecido em anos anteriores, o Presidente do Governo dos Açores, anunciou no decorrer da visita estatutária à ilha de S. Jorge, que havia sido tomada a decisão de conceder tolerância de ponto a todos funcionários da administração regional, no próximo dia 23 de fevereiro, terça-feira de carnaval.
Nada de extraordinário teria essa notícia na medida em que não constitui qualquer novidade e, em boa verdade, o “feriado” de entrudo, já faz parte da tradição, de há muitos anos a esta parte.
Perguntar-me-ão então, por cargas de água, vem esse assunto à colação?
À semelhança do que, creio em 1992, foi decidido por Cavaco Silva, então Primeiro-ministro de Portugal e que deu início à queda do governo cavaquista, Passos Coelho na luta constante de retirar todo e qualquer benefício que os portugueses ainda possam ter, decidiu não conceder aos funcionários públicos, ao serviço do governo central, a possibilidade de dispensa de funções no dia de carnaval.
De imediato, levantaram-se vozes por todo o país contra a atitude do senhor do “custe o que custar”. As autarquias que promovem o carnaval como cartaz turístico e, consequentemente apostam e investem naquelas festividades como forma de obter receitas para apoiar o cada vez mais frágil comércio e indústria local, vêm o terreno a sumir-se por debaixo dos pés e o investimento realizado a afundar-se no lamaçal em que este governo está a transformar o país.
Como lhes competia, algumas autarquias, manifestaram o seu desagrado e acusaram esse governo “troikiano” de prejudicar a economia local e de desmotivar, cada vez mais, os já tão sacrificados e explorados cidadãos.
Por cá, aonde o entrudo tem raízes profundas, houve presidentes de autarquias que, de imediato declararam a concessão de tolerância aos seus funcionários, independentemente da decisão do governo central ou da que viesse a ser assumida pelo governo dos Açores. Assim foi na Ribeira Grande, na Lagoa, na Praia da Vitória, em Angra do Heroísmo e em muitas outras câmaras municipais açorianas.
Para confirmar a regra, há sempre a exceção! A Câmara de Ponta Delgada, liderada por Berta Cabral, à falta de coragem para assumir uma decisão que contrariasse o “patrão” de Lisboa, ficou-se pelo “nim”… nem não, nem sim!
Vai daí, a ainda líder do PSD, penso que na qualidade de autarca – tal a confusão de funções - anunciou a sua magna decisão, ou seja, nada decidir! Se Carlos César concedesse tolerância aos funcionários da administração regional, ela copiaria a sentença e dispensaria os funcionários do município, podendo assim justificar perante Lisboa que tinha de ser assim, pois não era conveniente, em ano eleitoral, tomar uma posição menos favorável aos trabalhadores do que a assumida pelos socialistas.
Se o Presidente do Governo achasse por bem privar os açorianos de usufruírem um dia de folguedo carnavalesco e do tão necessário espairecer, ela faria o mesmo, certamente justificando o ato com a necessidade da existência de equidade entre os funcionários públicos dos dois patamares do poder e desta forma, não desobedeceria ao chefe Coelho e, perante a opinião pública, poria as culpas a César!
Não deixa de ser lamentável que uma candidata à presidência do governo dos Açores não tenha a coragem de assumir uma tão pequena decisão, como era a de dispensar os funcionários municipais para irem aos bailes que ela própria promove no Coliseu ou participarem na “Batalha de Limas” tendo para isso, apenas, de assumir uma decisão que lhe compete, independentemente de ter de contrariar Lisboa.
Como muito bem disse Carlos César, trata-se de “um mau sinal: – uma pessoa que não tem coragem para decidir, sobretudo quando são questões que envolvem a possibilidade de decidir contra a opinião do Primeiro-Ministro.”
Na opinião do líder socialista, “se em coisas tão pequenas a Dra. Berta Cabral já tem essa falta de coragem, então nas difíceis e nas que fossem importantes para os Açores, como não seria?”
Berta Cabral, reagindo às declarações de César, afirmou que a sua não decisão foi uma arma utilizada para pressionar o Presidente do Governo dos Açores!... E esta, hein? Comentários, para quê? Alguém, de Santa Maria ao Corvo, por mais crente que queira ser, algum dia acreditaria que Carlos César se deixaria pressionar por alguém e, muito menos, por Berta Cabral? Tenha dó e não insulte a nossa inteligência!
Para terminar, não posso deixar passar em claro e condenar a RTP Açores, que muito tenho defendido, pelo péssimo serviço que constituiu a reportagem ontem exibida acerca do serviço de emergência 112. É inaceitável que, a pretexto de fazer um teste para verificar o tempo de atendimento de uma chamada para aquele serviço, se entupa uma linha que deve estar exclusivamente ao serviço dos cidadãos para situações graves e urgentes. Bem esteve o funcionário do outro lado da linha que pôs o “jornalista” no seu devido lugar!