Opinião

Oportunidade Perdida

Hoje podia escrever sobre as eleições regionais, sobre o prometório da candidata do PSD, sobre as suas constantes contradições e superficialidades, sobre a importância da data definida para as eleições ser após a apresentação pública do próximo orçamento de Estado, sobre as obsessões do CDS-PP para com os titulares da pasta da Saúde na Região ou sobre a quentíssima actualidade política nacional. Mas não escreverei. Hoje refiro-me a algo que representa mais uma oportunidade perdida dos agentes do sistema político para credibilizarem e prestigiarem a actividade politica. A verdade é que hoje, muitos cidadãos não confiam na Politica enquanto actividade nobre, sempre colocada ao serviço do povo e do desenvolvimento. Isto decorre do facto de muitos protagonistas políticos subverterem completamente a importância da vida política, usando-a para benefício próprio, para benefício de interesses empresariais e corporações que representam ou que podem vir a representar quando deixarem de ser políticos. Enfim, teríamos matéria para dezenas e dezenas de artigos. É fundamental que façamos pedagogia permanente sobre a importância da Política assente em pressupostos de ética, de verdade e de responsabilidade. Mas isso só faz sentido quando materializamos isso em actos concretos. Neste âmbito, entre outras questões, a consagração da limitação de mandatos tem especial relevância e é um contributo importante para a garantia desses pressupostos. Exemplo disso foi a decisão do actual Presidente do Governo dos Açores de não se recandidatar, ou a decisão de Vasco Cordeiro de sair da Secretaria da Economia depois de ser designado candidato do Partido Socialista à Presidência do Governo dos Açores em nome desses importantes pressupostos, não só na política mas também na vida. Isto a propósito de ter sido tornado público que as direcções do PSD e do PS Nacionais se preparam para acordar entre si que os Presidentes de Câmara que já não se podem candidatar mais a um determinado Município, possam fazê-lo nos Municípios vizinhos, o que contraria o espirito do legislador quando consagra em lei a limitação de mandatos e dá um sinal político exactamente ao contrário do que se exigia nesta fase. Eventualmente haverá justificações jurídicas para que isto possa acontecer, mas isso não é relevante. Qualquer Presidente de Câmara que termine um terceiro mandato num Município, deverá estar impedido de se poder candidatar imediatamente a outro Município, em nome da verdade, da responsabilidade e da ética. Caso se confirme este acordo, é mais uma oportunidade perdida para prestigiar e dignificar a mais importante actividade e um dos mais relevantes pilares da nossa sociedade como é a Politica.