Opinião

Basta de medidas e de discursos contraditórios!

As pessoas, principalmente crianças e idosos, as famílias, as pequenas empresas, os seres que, de algum modo, estão, nestes tempos de mudança de paradigma e de crise financeira, mais vulneráveis, têm de ser os primeiros a merecer a atenção dos nossos governantes. Nos Açores, tem-se procurado dar resposta às novas necessidades que se têm vindo a manifestar. Nos Açores, tem-se sentido o esforço dos governantes em acompanhar as situações e minimizar os custos da vida que se vai tornando mais e mais apertada para ativos e aposentados. Na sequência lógica do que tem vindo a acontecer, há esperança de proteção, de justiça social, de apoio nas fases mais críticas. Mas as medidas que vão sendo anunciadas pelo governo da República desanimam os mais positivos. São cada vez mais agressivas para o cidadão comum e menos corajosas para os privilegiados. Os serviços da administração pública portuguesa não emagrecem, os gestores ganham num mês mais do que a maioria dos cidadãos num ano, não existe uma fundamentação convincente para decisões condenadas ao fracasso – e nem é necessário ser economista para se ter essa perceção clara! As justificações são contraditórias e soam a “desculpas de mau pagador”, numa falta de respeito, de responsabilidade, de equidade. Esta atitude é um insulto para quem labuta na vida. Esta atitude ignora todos os princípios que devem reger a humanidade. Os portugueses são pessoas pacientes, trabalhadoras, pacíficas, sonhadoras, tolerantes e de boa-fé. Mas o tempo passa e em vez de verem uma réstia de luz ao fundo do túnel, ou seja, em vez de sentirem os resultados do seu sacrifício pelo país, vêm um povo expropriado de bens e de valores e uma classe política a distribuir privilégios sem nenhum traço de pudor. “O que é preciso – escreveu o escritor e Professor catedrático Eugénio Lisboa, numa carta aberta ao Primeiro-ministro - é salvar os ricos, os bancos, que andaram a brincar à Dona Branca com o nosso dinheiro e as empresas de tubarões, que enriquecem sem arriscar um cabelo, em simbiose sinistra com um Estado que dá o que não é dele e paga o que diz não ter, para que eles enriqueçam mais, passando a fruir o que também não é deles, porque até é nosso”. E terminava assim: “Uma grande parte da população portuguesa, hoje, sente-se exilada no seu próprio país, pelo delito de pedir mais justiça e mais equidade. Tanto uma como outra se fazem, cada dia, mais invisíveis. Há nisto, é claro, um perigo.” Nos Açores, ainda que sofrendo as consequências do todo nacional, temos um governo atento e solidário com as pessoas, com as famílias, com as pequenas empresas. Mas há quem assobie para o lado continuando a falar do que falta fazer nas nossas ilhas, do muito que se gastou (afinal, fez-se ou não se fez?) e do fraco estado das nossas finanças ao mesmo tempo que promete tudo a todos como se fossemos os mais ricos da Europa! Das duas, uma: ou estamos mal das finanças e quem promete mais é irresponsável; ou estamos bem e então mente quando afirma que a governação dos últimos anos não foi boa. A contradição deste discurso começa a ser tão clara como as medidas do Primeiro-ministro: mata-se a si própria na sua incoerência. Apetece dizer: organizem as suas ideias! E por favor, façam a justiça de reconhecer inteligência ao povo que pensa pela sua cabeça.