Numa altura em que a União Europeia já está em abrandamento económico e em que os países do sul estão sujeitos a uma politica de austeridade que esmaga qualquer possibilidade de estarem disponíveis meios financeiros para combater a crise económica e social que atravessam, o próximo quadro comunitário de apoio afigurava-se como essencial para ultrapassarmos este desafio.
O Presidente francês referiu, por diversas vezes, a importância do novo quadro comunitário de apoio possibilitar um relançamento económico europeu e o próprio Parlamento Europeu chamou à atenção que, numa altura de crise, o orçamento europeu deveria ser reforçado em todas as suas vertentes.
Ora, novamente, os governos dos países mais ricos (contribuintes líquidos do orçamento europeu), cedendo, egoisticamente, às suas opiniões públicas e aos partidos populistas radicais e antieuropeus, preferiram chegar ao seu país dizendo que irão contribuir menos para o orçamento europeu do que dizer que deram mais um contributo para o problema económico e social da União Europeia
Assim o Orçamento comunitário para 2014-2020, que representará cerca de 1% do rendimento bruto da União, terá um valor 973 mil milhões de euros, menos 80 mil milhões do que inicialmente estava previsto e menos 33 mil milhões do que no quadro financeiro anterior (2007-2013).
Na parte que cabe ao nosso país, em vez de termos um reforço de verbas comunitárias, essenciais para combater o descalabro económico que vivemos, iremos estar sujeitos a uma redução global de verbas, parcamente compensadas, por um cheque adicional de apoio de 1500 milhões de euros.
Tanto a Politica de Coesão como a Politica Agrícola Comum, na vertente do desenvolvimento rural, principais eixos de financiamento a Portugal e aos Açores sofrem um corte de 10% e de 35%, respetivamente.
A ironia alemã
Muitos se questionam porque se mantem uma política de austeridade se esta só traz recessão e desemprego.
A resposta é relativamente simples: a austeridade só traz recessão e desemprego, aparentemente, aos países do sul.
Na passada sexta-feira foi notícia que o “excedente comercial da Alemanha aumentou em 2012 para 188,1 mil milhões de euros, face aos 158,7 mil milhões de euros atingidos no ano anterior, batendo o segundo recorde histórico, desde 1950, segundo o instituto de estatísticas nacional Destatis.”
Enquanto no sul da Europa se “passa fome” devido à política de austeridade imposta pela Alemanha, este mesmo país, ironicamente, à custa deste modelo económico, obtém excedentes comerciais gigantescos e anuncia, despudoradamente, aumentos das pensões de reforma em cerca de 10% nos próximos 4 anos.
Mais uma vez, como aconteceu, na discussão do orçamento europeu (2014-2020), o interesse individual de cada país prevalece sempre sobre o interesse comum e a Europa avança, paulatinamente, para o caminho do abismo ou seja, no caminho da sua desagregação.