Opinião

O “tifosi” da Alemanha

Por cá, habituados que estamos a discutir a responsabilidade do nosso umbigo em tudo o que acontece, pouco nos apercebemos da forte turbulência política e económica ocorrida na União Europeia na passada semana. Não foi coisa pouca. Enquanto discutíamos a inédita “tolice” da redução da sobretaxa de IRS, à posteriori – coisa nunca vista - “se os portugueses se portarem bem”, a economia europeia, vivia momentos de pânico face às expectativas de uma nova(?) estagnação/recessão acompanhada de um período de deflação e os principais líderes europeus esgrimiam argumentos sobre a estratégia económica a seguir no próximo ano. Uma forte nuvem negra começa a cobrir a economia europeia - Em setembro de 2014, face às expectativas económicas negativas, a média da cotação internacional do petróleo Brent foi de 97,09 dólares por barril, o que representa uma diminuição, em termos homólogos, de 13%, em 7 dias, segundo noticia o Expresso, os fundos americanos retiraram 1,3 mil milhões de euros das bolsas europeias, “ a maior onda de resgates deste tipo (…) desde 1992”, reforçando ainda mais o sentimento de falta de liquidez, os índices bolsistas afundam penosamente e os tão afamados juros da dívida soberana, pela primeira vez invertem a tendência e começam a subir. Porquê? Perguntam alguns… Outros afirmam: É óbvio! A economia europeia não cresce sustentadamente, pois está afogada num mar de impostos, sem recuperação efetiva do consumo interno das famílias, sem crédito e sem Estado para alavancar o investimento privado. O Banco Central Europeu cedeu às pressões alemãs e foi tímido no seu programa de compra de ativos, deixando uma incerteza sobre a capacidade efetiva da banca europeia conseguir contrariar a escassez de dinheiro existente na Europa. Alguns Estados Europeus – a França e a Itália, pelo menos - arrependidos das políticas seguidas e, em pânico com os resultados, ameaçam, apesar de ainda a medo, retirar a social-democracia da gaveta e utilizar o orçamento para provocar o crescimento económico. Com a deflação a bater à porta ruidosamente, pela primeira vez, timidamente, ouvimos a Alemanha, falar de um “New Deal”, que consolide um enorme programa de investimento público com reformas estruturais, redução da dívida pública e cortes na despesa. Sim! Se ficou confuso ou achou contraditória a ideia de aumentar o investimento público reduzindo ao mesmo tempo a despesa do Estado tem toda a razão! Não é possível materializar este objetivo no curto prazo, nem no médio prazo, sem aumentar a dívida pública na União Europeia. A única alternativa - pois o “lençol” do dinheiro não estica! - seria o sacrifício do Estado Social europeu e a diminuição, mais uma vez, do rendimento das famílias através do aumento da austeridade. Para quem, como Portugal, afirmava que não havia alternativa no caminho a seguir, ainda para mais, com o compromisso assumido no Tratado Orçamental, percebe, agora, que não é bem assim. A França e a Itália vão violar este Tratado - porque podem e porque querem – optando por outro modelo económico, ultrapassando o limite do défice dos 3%, para baixar impostos, investir na economia, na educação e no Estado Social, com a legitimidade, como afirmou Francisco Assis, de quem se empenhou, até agora, “em fazer reformas difíceis mas necessárias face ao novo enquadramento económico internacional”. Portugal, neste enquadramento, apresenta um Orçamento de Estado, igual a todos os outros feitos, - porque quer! - sem “qualquer sinal de inversão da política económica”, um resultado de um “Governo esgotado e sem soluções”, que opta, conscientemente, por ser o menino de coro, o “tifosi” da Alemanha, em vez de um parceiro reivindicativo dos nossos semelhantes.