Opinião

Como disfarçar a insegurança

I. Segundo o discurso oficial, a lista do PSD Açores à Assembleia da República é renovadora e imposta pelos social-democratas açorianos ao líder do partido. O tempo e os factos têm-se encarregado de demonstrar que nem há renovação, nem há imposição às estruturas nacionais. II. A cabeça-de-lista do PSD Açores, Berta Cabral, iniciou a sua atividade política em 1984, tendo sido sucessivamente Diretora Regional do Tesouro, Diretora Regional dos Transportes e Comunicações, Administradora da Empresa de Eletricidade dos Açores, Presidente do Conselho de Administração da SATA e Secretária Regional das Finanças e Administração Pública, até 1996. Tudo cargos governamentais ou de nomeação governamental, tudo cargos desempenhados nos governos de Mota Amaral, excetuando a sua condição de membro do Governo por um ano. Daí para cá, foi ainda líder parlamentar do PSD na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Presidente da Câmara de Ponta Delgada, Vice-Presidente da ALRAA e Secretária de Estado Adjunta e da Defesa do Governo de Passos Coelho. Em termos políticos, há algo de relevante, que nos esteja a escapar e que distancie, de modo fraturante, a carreira política de Berta Cabral da governação de Mota Amaral? Mas, para que não se pense que se trata de uma exceção, passemos ao número quatro da lista de cinco efetivos, o atual deputado regional Joaquim Machado. Além de cargos parlamentares, foi Subsecretário Regional da Comunicação Social nos IV e V governos regionais, nos idos de 1988 a 1995, curiosamente, ambos presididos por Mota Amaral. Tendo em conta que passaram mais de 20 anos e que ninguém nomeia para membro do seu governo alguém que represente politicamente o seu contrário, então parece-me pacífico considerar que também neste caso estamos longe de poder falar em renovação. III. Já quanto à suposta rebelião regional contra os ditames e vontades do PSD nacional, o argumento é tem sido ditado pelos próprios. Para ser verdadeira, a alegação de Duarte Freitas implicaria que Passos Coelho queria Mota Amaral e que o PSD regional não lhe fez a vontade. Presumiria ainda que Lisboa ficaria satisfeita com a manutenção do status quo da lista social-democrata açoriana e que Berta Cabral, pelo contrário, seria uma candidata malquista pelas chefias nacionais. “Oiça-mos” Mota Amaral em janeiro de 2013: “Parece-me ter sido um erro a voluntariosa opção por ir além da troika, quando a mais elementar prudência - que, como ensinam os clássicos, é a principal virtude requerida aos governantes - aconselhava a ater-se ao conteúdo programático do memorando de entendimento, alegrando assim a base parlamentar e social de apoio ao cumprimento do mesmo”.E a resposta do PSD nacional, pela voz do deputado Pedro Pinto: “Mota Amaral não esteve à altura do seu passado e das suas responsabilidades. Usou palavras pseudo-simpáticas, mas que apenas serviram para dificultar a necessidade de esperança que o país precisa.” Juntemos agora o processo disciplinar a que os três deputados do PSD eleitos pelos Açores foram sujeitos por terem votado contra a revisão da Lei das Finanças Regionais, também em 2013. Passemos, de seguida, a Berta Cabral, não à que queria ganhar as Regionais de 2012 e que não se achava parecida com Passos Coelho, mas à mais recente, a que afirmou no Congresso do PSD, em fevereiro do ano passado, “O presidente de partido [Passos Coelho] é um homem de imensa coragem, se não fosse ele não teríamos conseguido obter estes resultados”. Acrescentemos uma pitada de “Dificilmente seria possível chegar aos mesmos resultados que conseguimos com outra pessoa que não Passos Coelho”. Outras citações não faltariam, mas julgo que já deu para perceber claramente quem é que Passos Coelho gostaria de ver sentado na bancada social-democrata em Lisboa. IV. Os líderes fortes e decididos fazem o que têm a fazer. Os líderes a prazo, tolerados até nova ordem, arranjam desculpas para o que lhes mandam fazer.