Opinião

Solidariedade e saladas russas

1 – Os Açores foram brindados, novamente, com condições atmosféricas adversas. Cenários que desejaríamos não voltar a ver fizeram palco seu, novamente, as ilhas da Terceira e de São Miguel. Enquanto a bela cidade de Angra do Heroísmo se viu levada rua abaixo por uma verdadeira enxurrada que a todos apanhou de surpresa, o concelho do Nordeste viu-se a braços com um cenário de destruição assustador. Imediatamente as autoridades governamentais regionais se prontificaram para o que fosse necessário. Vimos o Presidente do Governo Regional imediatamente no terreno, vimos os responsáveis políticos dos Açores a acorrer prontamente aos locais onde a sua presença era requerida. Face aos cenários de destruição que fizeram notícia, o Governo da República permaneceu silencioso. Nem uma palavra de solidariedade, nem uma manifestação de disponibilidade. Se calhar bateu-lhes o receio que os Açores pedissem novamente ajuda a título de solidariedade e que o Governo da República tenha que, mais uma vez, recusar, como já anteriormente fizeram. Já não há paciência para tanta má vontade e irresponsabilidade política. Sabemos que as Regiões Autónomas são uma chatice para Passos Coelho e para Paulo Portas. Mas, quer queiram, quer não, são Portugueses que estão espalhados por estas nove ilhas. E, como tal, merecem o tratamento que lhes é reconhecido pela Constituição da República Portuguesa. Mas já devíamos saber que, para eles, o fazer-de-conta-que-não-se-passa-nada tornou-se um habitué. Especialmente no que toca aos Açores. No entanto, Angra e Nordeste voltarão a ser a belíssima cidade e o belíssimo concelho que são, podendo contar com a solidariedade que é tão característica entre todos os Açorianos, e com responsáveis políticos na Região que se prontificaram para o trabalho árduo que se seguirá. Porque da República, já sabemos, será zero. 2 - Estamos em época de pré-campanha eleitoral. Seria de esperar que os nossos órgãos de comunicação social se focassem efetivamente nisso: na análise exaustiva das propostas que cada partido apresenta para o futuro do país, de modo a termos, nas próximas eleições, portugueses bem informados e cientes da escolha a tomar. Seria de esperar também que os portugueses, por outro lado, se interessassem por essas propostas. Creio que, no entanto, paira no ar algum défice de atenção. Enquanto alguns canais se centram na saída de Sócrates da prisão, outros fazem como notícia de abertura o nu da Joana Amaral Dias. Sem poder de escolha, os portugueses são assoberbados por “notícias” que não o são, por fait divers que contribuem apenas para o vácuo informativo. Embora confesse que até achei inicialmente interessante a estratégia da Joana Amaral Dias (apenas como case study – e não um caso de coragem ou de “risco”, como lhe chamaram), quando os órgãos de comunicação social me pedem para conhecer o Pedro, a paixão da senhora, o copo da paciência transborda. E piora ainda quando entrevistam o senhor da Telepizza. Se bem que acredito que haja portugueses ansiosos por saber se o Engenheiro Sócrates gosta de pimentos ou de azeitonas na pizza (e estão no seu direito!), continuo a acreditar que há coisas mais importantes para noticiar. Longe de mim dizer aos órgãos de comunicação social do que fazer notícia. E longe de mim dizer aos portugueses sobre o que se devem interessar. Chamemos-lhe apenas um desejo. O desejo de que comecemos realmente a focar-nosno que realmente importa. É que juntar no mesmo noticiário peças sobre os apetites gastronómicos do ex-Primeiro Ministro, a capa da revista Cristina, o drama dos refugiados no Mediterrâneo e a campanha eleitoral, começa a saber a salada russa. Com extra queijo e pepperoni – o que não faz sentido nenhum.