Opinião

Fugir ao Debate

A dois dias do início oficial da campanha eleitoral para as eleições legislativas do próximo dia 4 de Outubro, a atual maioria que ainda governa o País criou mais uma cortina de fumo para evitar discutir o essencial. Desta vez a polémica é a responsabilidade sobre o pedido de resgate financeiro ao País e a chamada da Troika. Estas questões embora tenham uma “narrativa oficial” a verdade é que nunca deixaram de ser polémicas, nem deixarão de o ser. Por exemplo, caiu no esquecimento uma frase lapidar que um dirigente do PSD do Norte proferiu numa altura em que se discutia o chamada PEC IV – o programa cujo chumbo fez cair o Governo do PS em 2011 –“ou há eleições no País ou há eleições no PSD para mudar de líder”. Foi desta forma que uma parte do PSD colocou Passos Coelho entre a espada e a parede, ao ponto deste provocar uma grave crise do País para não ter de lidar com uma grave crise interna no PSD. Independentemente da interpretação que cada um dê às responsabilidades que os diversos intervenientes tiveram na crise de Março de 2011, a verdade é que ao atual Governo da República interessa alimentar esse tipo de polémica estéril. O que Passos Coelho e Paulo Portas estão a tentar fazer é alimentar uma campanha de casos e historietas que evite discutir as suas próprias responsabilidades no desastre da governação dos últimos quatro anos. Qualquer eleição deve abordar o futuro em termos de confrontos entre visões diferentes, objetivos distintos, estratégias alternativas e de protagonistas. Muito raramente, para não dizer nunca, é possível evitar o debate sobre o balanço do mandato das forças que apoiaram o governo. No fundo as pessoas são chamadas a votar pronunciando-se, simultaneamente, sobre uma avaliação do passado e uma opinião sobre diferentes projetos para o futuro. É por isso inaceitável que Passos Coelho e Paulo Portas estejam a fugir ao debate que verdadeiramente interessa: as suas responsabilidades nos últimos quatro anos e o que defendem para o futuro.