I. Na mesma semana, os açorianos ficaram a saber que o líder do PSD Açores não tem nada de novo para dizer, mas que o líder da JSD Açores, em compensação, diz qualquer coisa. Duarte Freitas interrompeu a sua muda e queda estadia no plenário da Assembleia Legislativa para, num saltinho a uma queijaria, afirmar o óbvio: é preciso promover a carne e o leite dos Açores no exterior – curiosamente, o Vice-Presidente do Governo Regional, no início do mês, tinha assinado com a maior cadeia de hipermercados do país um protocolo para que todas as carnes à venda nos respetivos talhos passassem a incluir a Marca Açores. Ao mesmo tempo, o jovem Daniel Pavão realizava uma conferência de imprensa e concedia uma entrevista a este jornal para malhar no Governo e no Partido Socialista, porque ele, segundo o próprio, “não tem medo”.
Enquanto o líder do PSD dos grandes, com receio de se desvalorizar por falar de mais, acaba por ficar reduzido ao óbvio, o líder do PSD dos pequeninos, com receio de não se conseguir valorizar o suficiente, acaba por ficar reduzido ao extravagante, gritando, de toda a vez que fala, “escolham-me a mim!”. Aliás, é ele próprio que o confessa quando questiona, não sem uma pontinha de indisfarçada apoquentação, “quantos líderes da JSD/Açores não foram deputados?”.
II. O problema é mesmo esse, caro leitor. O jovem Pavão não tem a certeza de que lhe será reconhecida a inerência que a liderança da JSD lhe poderia conferir para efeitos de lista de deputados. Acha que tem de mostrar serviço internamente, impor-se no campeonato de seniores, que não lhe basta dar uns toques nos juniores. Por isso, quando fala, não é a voz de uma geração a falar, é a voz de um PSD pequenino que quer assegurar o lugar entre os grandes e que acha que isso depende sobretudo do nível de cacetada que for capaz de infligir ao adversário político.
Estamos, portanto, perante uma coisa lá deles, que nada tem a ver com as inquietações e aspirações dos jovens açorianos, mas que se resume ao jogo de forças interno entre social-democratas graúdos e garotos. É o próprio jovem Pavão que o diz, quando, do alto da sua cátedra de líder da JSD, recomenda aos seus companheiros deputados: “Falta serem mais ativos fora da Assembleia. Isto é claro. Não basta escrever um artigo no Açoriano Oriental e ser muito bom a legislar. É preciso as pessoas saberem o que estão a fazer.” É assim o rapaz, além de não ter medo, é de juízo fácil e sentença curta.
III. Mesmo quando fala dos jovens, o jovem Pavão – e isto não deve ter nada a ver com o facto de estar no limite de idade para continuar a ser líder da JSD e assim garantir o livre-trânsito para as bancadas do Parlamento – usa-os como arma de arremesso ao Governo e ao PS, e nunca como fonte legitimadora do seu discurso. Os problemas dos jovens são, para ele, o que valerem enquanto incómodos para a governação. Se assim não fosse, o líder do PSD dos pequeninos proporia alternativas, rasgava novos horizontes políticos, ousava arriscar ideias e soluções. Pois, numa página inteira de jornal, não há uma proposta de resolução dos problemas dos jovens. Os programas ocupacionais e de estágios não são eficazes. Solução? Zero. O desemprego jovem é alto. Solução? Zero. Os jovens estão desencantados com a política. Solução? Zero.
Para ele, o mundo é composto pelos amigos do PS e por aqueles que têm medo do PS. Não correndo o risco de ser considerado amigo do PS e fazendo questão de dizer que não tem medo do PS, o jovem Pavão tem esperanças de que lhe premeiem a singularidade. Não os jovens, que esses vão até aos 30 e têm muito mais com que se preocupar, mas os companheiros que mandam nos seniores e que, quem sabe, talvez vejam nele o porta-voz dos seus ressabiamentos políticos e nele projetem as suas inconfessáveis frustrações partidárias.