“Suficiência” não é um termo novo, mas começa a ganhar um novo alento no atual contexto de contenção energética e de consciencialização ambiental e social. Hoje em dia, poucos são indiferentes à simples poupança de eletricidade, a tarefas como a separação de resíduos por tipologia ou à necessidade de melhor distribuir a riqueza, apenas para dar alguns exemplos. Poucos são hoje aqueles que não têm consciência da aceleração das alterações climáticas globais e da necessidade de ação.
Apesar de nos parecer uma temática relativamente nova, na realidade, desde 1798, através dos trabalhos de Thomas Malthus, que se constatou a finitude dos recursos face ao crescimento geométrico das necessidades. No entanto, os desenvolvimentos tecnológicos e os avanços científicos contemporâneos criaram a ilusão que o progresso seria sempre sinónimo de maior disponibilização de recursos, sejam eles energéticos ou alimentares.
“Suficiência”, enquanto contraponto aos dogmas do crescimento infinito típicos dos séculos XIX e XX, começou a ser seriamente debatido nos meios académicos nos finais dos anos 70 do século passado. Os pensadores J. K. Galbraith, Garrett Hardin e Paul Ehrlich e instituições como o Massachussets Institute of Technology (mais conhecido pela sigla MIT) e o Clube de Roma foram alguns dos precursores da nova abordagem.
O surpreendente, no entanto, é que esta abordagem, que nos condiciona diariamente e com a qual começamos a ser instintivamente solidários, ainda não chegou à política. Há que assumir que não podemos continuar a crescer a este ritmo. Não podemos continuar presos à lógica capitalista do consumo imediato. Há que mudar para o estabelecimento das necessidades básicas coletivas, tal como começamos a fazer individualmente.
É precisamente esta mensagem que tenho partilhado nas intervenções feitas em fóruns científicos e a receção tem sido surpreendentemente positiva. Todos queremos viver melhor, mas, em consciência, as nossas necessidades básicas são a amizade, a família, a paz, a saúde, algum conforto e, cada vez menos, o último gadget da moda ou no carro que anda a 200 km/h, quando apenas podemos circular a 120. Da mesma forma, no futuro não será coletivamente admissível o investimento milionário na estrada que não conseguimos manter ou nos estádios de futebol que rapidamente se tornaram supérfluos.
O mundo está em mudança e todos exigimos viver bem. Todos temos esse direito. No entanto, viver bem já não é o que era.