Por estes dias o país está encantado. Embevecido com o seu novo Presidente. Como nos primórdios da paixão tudo no consorte lhe parece melodia celestial. As palavras que sopra, a densidade da tirada, a profundidade do pensamento. Portugal está preso pelo beicinho. É mérito inegável da personalidade, mas tem o seu quê de fastio. Décadas de Cavaco fizeram antecipar a Primavera. Marcelista. O novo Presidente tem tudo o que o anterior não tinha. Mas, para não ir mais longe, é humano. Enche uma sala. A sua aparente informalidade planeou um arranque notável. No discurso que proferiu, na festa que preparou, na forma como escolheu iniciar o seu novo cargo. Construiu um discurso agregador e apaziguador, apelando ao consenso. Bem estruturado e universalista, tocou a rebate, e afagou o âmago do ser português. Recuperou lugares comuns, que todos já ouvimos algures, mas soube colocá-los no limiar da originalidade enunciativa. Apaparicou o desvalido ego nacional. E o dos descrentes da política. Que em Marcelo não veem nada parecido com um político. Veem um homem, e veem sobretudo um amigo. O mesmo que os visitava ao serão de domingo. E que agora está ali, furando o protocolo e revelando-se um porreiraço. Na selfie com as miúdas e no meio da criançada. É este o segredo do enamoramento, a capacidade de surpreender. A esquerda mais à esquerda poupou nos aplausos. E Passos Coelho não ficou para o almoço. Há digestões difíceis. O novo presidente da República é uma vedeta, que substituirá para os portugueses a protagonista de “Coração D’Ouro”. Saberão o que faz e estarão atentos quando fala. Marcelo fez uma declaração de amor incondicional a Portugal. Os portugueses que amam o seu país não lhe podiam ficar indiferentes. Disse-lhe o que qualquer um de nós pensa, e com isso ergueu o baluarte patriótico dos portugueses, que o tomam, por ora, como o sopro de esperança de que estavam amplamente necessitados.