Opinião

Antero de Quental e o 25 de Abril

“Filha das revoluções, a democracia não é anarquia; é pelo contrário, a ordem e o direito…É a igualdade social e económica, tendo por instrumento a liberdade política”. Foi deste modo lúcido e prospetivo que Antero de Quental, em Fevereiro de 1872, definia a democracia. O pensamento deste grande pensador açoriano extravasa o seu tempo com a grandeza das suas ideias. Infelizmente, continua mais apreciado e valorizado fora da cidade que o viu nascer. A Câmara Municipal de Vila do Conde (28ª da City Brand…)adquiriu e restaurou um imóvel -A Casa Antero de Quental - inaugurada em 2013, onde este “açoriano ímpar” viveu entre os anos de 1881 e 1891. Verdadeira âncora cultural, este equipamento recolhe, divulga o pensamento do líder da Geração de 70 e acolhe o Centro de Estudos Anterianos. A gestão “melancólica e tosca” da maior autarquia dos Açores (37ª da City Brand…) tarda em entender o valor de um dos maiores pensadores do século que influenciou toda a cultura do século XX e se estendeu ao século XXI, como referência de filósofos, escritores e ideólogos. A Geração de 70 viu ao longe e por isso teve razão antes. Entendendo a complexidade do seu tempo foi “opti-pessimista” e percebeu, por exemplo, que nos atrasámos pela falta de conhecimento e ciência. Aqueles que idealizaram e lutaram pelo 25 de abril também tiveram em conta as condições anteriores e as exteriores. Relegando a discussão concetual da “revolução” de abril de 74, esta viragem política acabou em grande medida por materializar muitas das ideias da Geração de 70. Bastaria recordar algum do pensamento político de Antero em relação a diversos temas. Continuam atuais, entre outros “remas”, “a indiferença em política”, “a democracia”, “a república”, “o pensamento social”, “a política do socialismo”, “o socialismo e a moral”... Passados 174 anos após o nascimento de Antero, o 25 de abril de 74, sendo temporalmente distante, carrega consigo muito da necessidade de liberdade permanente, de igualdade, de justiça, de valores e de solidariedade que a Geração de Antero soube projetar no devir. Só passaram 42 anos depois do primeiro abril de liberdade, porém, parafraseando Bergson é sempre tempo de invenção ou nada. Antero e o 25 de abril encerram dialética e exigem muito mais do que o vazio do nada! Mais: aniversário do decano Açoriano Oriental. Menos: o vazio das ideias do maior partido da oposição.