I.PSD e o CDS nos Açores, em coro genericamente afinado, cantaram-nos esta história durante quase cinco anos. Não queriam, estavam até constrangidos, que lhes custava, mas que o Eng.º - que afinal nem era bem Eng.º, mas isso era outra história… - Sócrates é que era o verdadeiro culpado pelas medidas draconianas de ajustamento e austeridade que a Coligação na República impunha ao país.
Por ter pedido ajuda externa para pagar o custo de viver acima das suas possibilidades, o PS teria conduzido o país a uma situação insustentável. Competia agora a PSD e CDS-PP corrigir o rumo, por as contas em ordem, executando tudo o que os credores determinavam, porque, diziam eles, a honradez obriga a pagar o que se deve.
É claro que tudo isto era feito de forma muito condoída. Era um imperativo moral, um dever de consciência, uma imposição da razão. Tinha de ser feito, mas custava-lhes muito. Era terrível ter de congelar salários; era doloroso cortar apoios sociais; era tremendamente difícil suspender direitos adquiridos. Faziam-no porque essa era a única forma de reequilibrar a economia, pagar os juros da dívida aos credores e colocar o país, de novo, na rota do crescimento.
II. Quando chegámos ao final do mandato do Governo de Passos e Portas, em período pré-eleitoral, o PSD e o CDS diziam aos Açorianos que tinha sido duro, mas que tinha valido a pena. Hoje, porém, sabemos que o sacrifício foi em vão e que o esforço do Governo da Coligação, impondo (contrariado, é óbvio!) aos portugueses tudo o que lhe mandavam Berlim, Francoforte e Bruxelas, era um mantra ideológico disfarçado de inevitabilidade.
Os resultados não deixam dúvidas: aumento do défice estrutural em 0,6 pontos percentuais, quando o deviam ter reduzido exatamente na mesma proporção, e incumpriram o ajustamento orçamental a que se tinham comprometido entre 2013 e 2015.
Aplicando cegamente a receita dos credores - a tal que era a única forma de recolocar o país no rumo certo - à custa das condições de vida dos portugueses, o Governo do PSD e do CDS deixou uma fatura acrescida para pagar e uma nação esvaída, sem ânimo e sem meios, sem saber em quem acreditar e sem querer acreditar que de nada tinha servido todo o esforço.
III. Por causa do estado de coisas a que chegámos, o ECOFIN anunciou ontem a abertura de um processo de sancionamento de Portugal, conjuntamente com Espanha, por “não terem adotado medidas eficazes para corrigirem os défices excessivos”. Não terem quem? Aqueles que governaram até 2015, já que é esse o período de análise. Quais Défices excessivos? Os que aqueles que governaram até 2015 criaram e/ou ajudaram a manter excessivos. Eficazes por que critérios? Pelos que estiveram na origem das medidas de austeridade que a própria Comissão Europeia mandou executar e que o PSD e o CDS-PP implementaram com afinco e denodo.
Num processo kafkiano, os Portugueses estão na iminência de serem penalizados por terem sido vítimas de um conjunto de cortes e reduções nos seus rendimentos por parte de um Governo que, alegando cumprir o que lhe era imposto pelas instâncias agora sancionadoras, clamava ter resolvido o problema que está na origem das sanções?! E o que diz o PSD Açores? Que a culpa é do Eng.º Sócrates, que deixou o Governo em 2011, e do Dr. Costa, que entrou para o Governo em finais de novembro de 2015. Mais concretamente, e nas palavras de Duarte Freitas, há três meses atrás, que Passos Coelho “tem uma visão para o país, daquilo que tem de ser feito, para que Portugal não perca esta oportunidade criada, pelos esforços que fez, consolidando uma viragem para o futuro, como um país com um desenvolvimento económico sustentado”.