Opinião

Jogos de Fortuna e azar

Às segundas, quartas e sextas, o Governo dos Açores tem de libertar a economia privada. Às terças, quintas e sábados, a culpa é do Governo quando uma companhia aérea privada decide adaptar a sua oferta à procura. É esta, no fundo, a ilação que se retira das recentes posições do Presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, posições, obviamente, legítimas, mas que denotam uma grande inconsistência e, mais do que isso, um objetivo que vai para além da defesa dos interesses do empresariado. Ainda na quarta-feira à tarde, ouvimos o Presidente da CCIPD a criticar, com veemência, a circunstância de, nos Açores, se estar a caminhar para “um modelo cada vez mais público” de desenvolvimento económico. Em menos de 24 horas, na manhã de quinta-feira, ouvimos o mesmo responsável a lamentar, com a mesma veemência, o Governo dos Açores, considerando “inadmissível” que não tenha trabalhado um mercado turístico, perante a decisão de uma empresa privada de aviação – repito, privada - de reorganizar a sua oferta para a Região. Ou seja, à quarta-feira, há Governo a mais nos Açores. À quinta-feira, o mesmo Governo não fez tudo o que devia relativamente à operação de uma companhia privada de aviação. E no meio desta inconsistência de argumentos ficou-se sempre sem perceber o que propõe, em concreto, o Presidente da CCIPD, como se concretiza o dilema entre defender que Governo deixe de apoiar os empresários dos Açores e, simultaneamente, intervenha quando uma empresa privada reformula a sua oferta. É, perfeitamente, compreensível, e até mesmo de salutar, que o representante dos empresários defenda mais economia privada, exercendo a sua capacidade reivindicativa. Agora, não pode é dizer o mesmo e o seu contrário. É, no fundo, como se fosse um passageiro de um navio que, ao embarcar, recusa o colete salva-vidas e, depois, na iminência do naufrágio, culpa tudo e todos por não ter, ele próprio, vestido o colete. É factual, que nestes últimos quatro anos, a economia dos Açores passou, devido a uma conjuntura de crise externa sem paralelo, por uma situação bastante adversa, obrigando a medidas excecionais destinadas, tanto às empresas, como aos trabalhadores. A pergunta que terá de ser feita é, no fundo, onde estaríamos, em termos económicos e sociais, se não fossem estas medidas implementadas pelo Governo dos Açores de apoio às empresas e às famílias. Claro que o senhor Presidente da CCIPD sabe, perfeitamente, a resposta a esta questão, mas prefere fazer passar a ideia que a economia dos Açores não é mais do que um jogo de Fortuna e azar.