Opinião

Retoma e desafios

I. Sabemos que há uma certa oposição que, com base numa noção muito própria dos deveres dos representantes democráticos, considera que questionar e fiscalizar é um exclusivo da oposição, do mesmo modo que propor soluções e assumir responsabilidades compete unicamente ao Governo e ao partido que o apoia, mas essa é, a nosso ver, uma versão comodista, pouco responsável e pouco útil da Autonomia, que tem precisamente como mérito maior o de permitir que todos sejam parte de um sistema de autogoverno eficaz, que nos permita progredir como Região. A interpelação que o Grupo Parlamentar do Partido Socialista fez ao Governo Regional, sobre “Crescimento Económico e Criação de Emprego” teve como razão de ser: proporcionar uma reflexão alargada, envolvendo o Governo e todas as forças políticas, sobre o caminho que trilhámos na Região, e que nos permitiu crescer em termos económicos e de emprego, mas principalmente sobre o que cada um considera deverem ser as opções prioritárias com vista à consolidação futura destes indicadores positivos. II. Esta retoma não é nem um milagre, nem um conto de fadas. Não é motivo para foguetório, mas é, sem dúvidas nem receios, razão para que sublinhemos o esforço que as famílias, as empresas e os poderes públicos despenderam para que déssemos a volta à crise e retomássemos um caminho de convergência com o País e a União Europeia. Esta retoma é a resposta da economia real! É a resposta que encontrámos nas várias visitas que realizámos, falando com empresários e trabalhadores reais da nossa Região. Na economia real encontrámos uma empresa de raiz familiar e média dimensão, que nos últimos três anos contratou mais de três dezenas de funcionários e apostou em novas áreas de negócio e contactámos com um jovem empresário terceirense que, nos últimos cinco anos, fez investimentos na ordem dos 800 mil euros e passou de cinco para quase 40 funcionários, entre outros exemplos. III. No auge da crise, quando o crescimento económico era negativo e o desemprego elevado, quando na Região muitos lutavam pela manutenção do seu emprego e pelo futuro da sua empresa, o PSD propôs, em menos de um ano, três debates de urgência sobre o qualificou ser uma “situação de emergência social, anemia de investimento, estagnação da economia e crise social”. Na altura, considerou a governação do PS “uma autoestrada para a pobreza e uma via rápida para o desemprego”. Em plena campanha eleitoral, quando a economia começava a dar sinais de poder recuperar mas a taxa de desemprego ainda era superior à nacional e estava acima dos dois dígitos, o candidato Duarte Freitas dizia que as prioridades de um eventual Governo do PSD seriam “emprego, emprego e mais emprego!”. Mas daí para cá, nestes oito meses de legislatura e de contínua e crescente recuperação dos indicadores económicos, o PSD, que se diz alternativa, que se dizia empenhado “em emprego, emprego e mais emprego”, só depois do anúncio da interpelação, se lembrou que nada, absolutamente nada, tinha dito ou proposto sobre aquela que considerava a sua maior preocupação. Não queremos acreditar que, para o PSD, o emprego só seja prioridade quando o desemprego cresce, que a economia e o desenvolvimento só sejam preocupações quando o PIB desce ou que as empresas só suscitem atenção quando as instâncias que as representam criticam o Governo. Para nós não é assim. Para nós importam as pessoas. Para nós contam as pessoas que compõem os 9% que ainda não encontraram emprego; contam os empresários que ainda lutam para reequilibrar os seus investimentos e obter retorno; para nós contam os trabalhadores que ainda almejam um vínculo laboral mais estável. É em nome de todos eles que temos de persistir na nobre missão de servir os Açores.