O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, decidiu, como todos sabemos, fazer a passagem de ano na ilha do Corvo. E foi aí que proferiu a tradicional mensagem de Ano Novo. A referida mensagem, como seria expetável, não podia deixar de ter umas palavras para os Corvinos, em especial, e para o Povo Açoriano, no geral. O Presidente, logo no início da sua alocução, referiu o seguinte: “Começar o Ano num dos pontos mais longínquos do território físico do nosso Portugal – na ilha do Corvo – é uma sensação única – feita de admiração pela gesta açoriana, de orgulho de ser português e de compromisso para com os que mais longe estão de tantos de nós. Admiração pelo povo corvino, pelo povo açoriano, pela Região Autónoma dos Açores. Orgulho, em que se misturam Oceano sem fim, coragem dos que a tudo resistem para poderem ficar, abraço de saudade aos que partiram e partem e se espalham pelos cinco continentes, evocação dos que por esses continentes também servem Portugal nas Forças de paz e humanitárias, fraternidade aos que falam em português, povos e Estados a que estamos unidos em Comunidade.” A partir daqui, com um sorriso nos lábios e ainda mais reconhecidos pela escolha dos Açores para a passagem de ano do mais alto magistrado da nação, lá continuámos muito atentos ao discurso de Sua Excelência. No meio de uma prosa de elevadíssima qualidade; com muito sumo nas entrelinhas; com margem para interpretações ao gosto do freguês; com lembretes e reparos ao Governo da República e, no limiar (para sermos simpáticos) das competências presidenciais, até com sinalização de áreas em que o Governo se deverá concentrar: “na saúde, na segurança, na coesão e inclusão, no conhecimento e no investimento”; destacamos as diversas referências ao significado de “esperança”, ainda que a propósito do Governo da República , da imperiosidade (“esperança”) de coexistir um “Governo forte, concretizador e dialogante, para corresponder à vontade popular, que escolheu continuar o mesmo caminho mas sem maioria absoluta, oposição também forte e alternativa ao Governo, capacidade de entendimento entre partidos quando o interesse nacional o assim exija”. Ora, ainda que possa surgir no ar a dúvida se esta passagem não tinha vários destinatários, o que é factual é que ali estão os “ingredientes” para uma democracia amadurecida. Isto mesmo foi há muito percecionado pelo Partido Socialista nos Açores que, não obstante ter a confiança da maioria absoluta do eleitorado desde o ano 2000, tem vindo a pautar a sua governação não só por resultados, como principalmente pelo diálogo e estabelecimento de pontes com partidos da oposição, à esquerda (PCP) e à direita (CDS-PP), sempre com o intuito de melhorar as condições de vida das Açorianas e Açorianos. Esperemos, pelos próximos episódios, para ver se o recém-eleito líder do PSD/A (mais um!) cumpre uma das máximas do fundador do seu Partido (Francisco Sá Carneiro) e que rezava assim: “A oposição é, para o poder em exercício, estímulo e, para o interesse comum, factor de progresso.”
PS: Consta que o líder regional do partido monárquico não apreciou a vinda do Presidente da República ao Corvo. Nada mais natural. Não acham?