As grandes crises provocam grandes abalos. Uns visíveis e imediatos. Outros, diferidos e subterrâneos. Sobretudo, para além das trágicas perdas de vidas, e da radical alteração do modo de muitas mais… também são criativas, disruptivas e trazem novos paradigmas. Os últimos quarenta anos, pelo menos para o “mundo ocidental”, não foram brilhantes. A chegada ao poder de Reagan e Thatcher tiveram efeitos severos na destruição do Estado Social e na desregulação. A nível internacional, Khomeini e o novo Irão sinalizaram novos radicalismos, insegurança e banalização do Terror.
Assim não me surpreendeu ler, em hora pandémica, que “os confinamentos económicos estão a impor um custo acrescido aos que estavam já em pior situação. (…) Os países que permitiram a emergência de um mercado de trabalho marcado pela precariedade e pela informalidade estão a encontrar grandes dificuldades em canalizar ajuda financeira para os trabalhadores com empregos inseguros”. E prosseguia o editorialista:
“Será necessário pôr em cima da mesa reformas radicais – invertendo a orientação política prevalecente nas últimas quatro décadas. Os Estados terão de ter um papel mais ativo na economia. Devem encarar os serviços públicos como investimentos e não como um peso, e procurar formas de tornar os mercados de trabalho menos inseguros.
A redistribuição estará novamente na ordem do dia; os privilégios dos mais velhos e dos mais ricos serão postos em causa. Políticas consideradas excêntricas como um rendimento garantido e impostos sobre a riqueza terão de fazer parte do menu” (…).
Parece que os liberais se tornaram sociais-democratas. Dos verdadeiros, claro. E não, não é a opinião de uma folha afeta à esquerda: são tudo excertos do Editorial do passado 3 de abril do… Financial Times!
Ao Secours! La gauche revient?...