Opinião

Dois Rios

O líder nacional do PSD nunca foi um político convencional, quer na substância, quer na forma de comunicação. A sua passagem pela Câmara Municipal do Porto foi pródiga em exemplos desse estilo peculiar. Um dia, no auge do conflito entre o Presidente da Câmara do Porto e Pinto da Costa, o inefável líder do Futebol Clube do Porto desferiu uma das suas célebres frases – “no Porto só há um rio, o Douro e mais nenhum!”. Em causa estava a rejeição de Rui Rio em cultivar a promiscuidade entre a política e o futebol, simbolizada na recusa em ceder os paços do concelho para celebrar as vitórias do FCP. Na qualidade de líder nacional do PSD, Rui Rio mantém o seu estilo único. Concilia moderação e busca de consensos nas suas propostas, posicionando claramente o PSD no centro político, com uma forma de comunicação por vezes excessivamente contundente para um centrista. Os momentos em que fala são subordinados à sua agenda própria, o que gera uma imprensa pouco simpática. Estas características conferem-lhe uma identidade marcada por uma certa inconsistência e por um discurso desconexo. É por isso que metade do PSD rejeitou o seu atual presidente. Perante o teste da gestão da crise do COVID-19, a que também está sujeito, Rui Rio tem surpreendido positivamente e tem contribuído de forma notável para reforçar a unidade nacional contra a pandemia. Recentemente, na tribuna da Assembleia da República, Rui Rio afirmou o seguinte – “O PSD não é oposição, é solução. Sr. Primeiro-ministro, desejo-lhe coragem, nervos de aço e muita sorte. A sua sorte é a nossa sorte”. Nos Açores, na fase que atravessamos, há políticos e dirigentes associativos que devem ouvir com muita atenção Rui Rio. Pinto da Costa não tinha razão. O Porto tem mesmo dois rios. Um corre para o mar e o outro é um político que revelou, até à data, estar à altura do momento histórico que todo o País atravessa.