Cem anos depois de terem morrido, só em São Miguel, por gripe espanhola, mais de duas mil pessoas, os Açores voltaram a ser desafiados para conter outra pandemia chegada sem avisar.
Agora, não contou apenas o acréscimo de conhecimento científico e informação internacional para lidarmos melhor com a ameaça que ainda se sente. Contou, sem dúvida, para o êxito que estamos a ter – pese embora a mais de dezena e meia de óbitos que infelizmente não se puderam evitar – a prontidão e a proximidade que o autogoverno proporcionou.
Já assim acontecera quando nestes últimos 44 anos vivemos, ainda que com menor dimensão e efeitos, sismos, tempestades e acidentes que ceifaram vidas e destruíram bens de usos público e privado.
Com autonomia, preparámos o nosso sistema regional de saúde para a emergência; com autonomia ganhámos o apoio dos açorianos para adotar medidas de limitação da mobilidade das pessoas, de encerramento da atividade económica e de serviços públicos não essenciais, contendo os níveis de contaminação e salvaguardando seguimentos mais gravosos; com autonomia adaptámos o nosso sistema de trabalho, de ensino, o nosso sistema de proteção civil; com autonomia empenhámo-nos em prover a subsistência em condições dignas dos afetados pelo infortúnio que nos bateu à porta; com a Autonomia o nosso Parlamento continuou a dar corpo à nossa democracia regional adaptando-se para um modelo online e cumprindo todas as suas funções legislativas, de debate político e de escrutínio à atividade do Governo.
Este foi apenas um tempo de sucesso na gestão da pandemia, mas, sobretudo, de demonstração e de resiliência da nossa Autonomia.
Agora que é o momento de abrir, concertadamente e com precaução, de preparar com premência a Região para a nova realidade de um mundo consternado que certamente mudou, consideravelmente, a nossa Autonomia tem que continuar a servir para inovar e concretizar.
Alcançámos a consciência de que os novos desafios não se ultrapassam com as mesmas receitas do passado. Os desafios são imensos, numa União Europeia que poderá registar uma quebra no PIB entre 8 e 12%, e que está preocupada, disposta a investir mais de 12% do seu PIB, priorizando áreas como a da transformação digital e ecológica, atenta à sua posição nas cadeias globais de fornecimento ou em setores chave, como a saúde, as matérias-primas críticas, infraestruturas e investigação científica. Também, cumulativamente, nós temos os nossos desafios, desde logo o de reforçar, em autonomia, a nossa “autonomia estratégica” seja nessas dimensões, seja nas que nos diferenciarão e qualificarão na nossa inadiável e indispensável abertura ao exterior.
Ou seja, neste Dia dos Açores, com justificada diferença, podemos fazer uma pausa e pensarmos, com boas razões, que graças à Autonomia e independentemente de uma lei da República ou de uma diretiva da União Europeia, podemos cuidar melhor de nós.