Opinião

A pergunta que ficou por responder

Tal como referido no texto da passada semana, aqui estou para analisar o debate realizado pela RTP-A e que juntou quase todos (11 de um total de 13) os líderes das forças políticas que se apresentam às eleições de 25 de outubro. Conforme referi, um debate com tão elevado número de protagonistas não é um verdadeiro debate. E, acrescento ainda, a duração do referido debate também não ajuda. Quase 140 minutos são uma eternidade em televisão. Dificilmente se consegue prender a atenção da esmagadora maioria dos telespectadores durante tanto tempo e, por conseguinte, dificulta a análise ao debate. No entanto, continuo a considerar extremamente válido a existência deste tipo de debates. A Democracia assenta, antes de mais, em dois princípios basilares: liberdade e igualdade. Neste contexto, impõe-se – em nome da justiça – reiterar que a RTP-Açores tem assumido um papel decisivo como garante de tais princípios. Tal como se impõe desmistificar a ideia, lançada pela maioria dos partidos da oposição, da existência de “medo na sociedade” ou de haver “perseguições políticas” por parte do partido no poder ou ainda dos perigos de eternização no poder. Esta espécie de “fantasmas” que os partidos da oposição, de 4 em 4 anos, gostam de agitar não tem qualquer correspondência com a realidade e são, em abono da verdade, um atentado à própria Democracia e um insulto e atestado de estupidez generalizado. Ora vejamos os seguintes factos: 1. Os eleitores terão, nas próximas eleições, a possibilidade de escolher depositar o seu voto entre um mínimo de 5 partidos/coligações (círculo eleitoral do Corvo) e um máximo de 13 (círculo eleitoral de São Miguel); 2. As listas a sufrágio, de Santa Maria ao Corvo, integram, na globalidade, quase 1000 (mil!) Açorianas e Açorianos; 3. Neste quase um milhar de candidatos temos, garantidamente, centenas de funcionários públicos (professores, médicos, enfermeiros, assistentes técnicos, etc… etc…). Acresce que os factos aqui referidos estão numa trajetória ascendente, isto é, de eleição para eleição, são cada vez mais os partidos ou coligações que se apresentam aos eleitores e, de igual modo, tem vindo a subir o número de candidatos. Ora, assim sendo, fica bem patente que “fantasmas” e “papões” só existem na cabeça daqueles que já estão a olhar para a porta e com a cabeça no discurso a proferir na noite eleitoral. Mas nesta matéria, importa referir que as responsabilidades não são todas iguais. Ouvir Bolieiro falar em alternância, necessidade de refrescamento ou nos alegados vícios que uma permanência duradoura no poder representa não é igual a ouvir, por exemplo, António Lima ou Paulo Estevão sobre o mesmo assunto. E porquê? Bolieiro, para além de andar na vida política desde o final da década de 80 do século passado, é presidente de uma Câmara Municipal (com mandato suspenso, é bom relembrar!) em que o PSD é poder há 27 anos consecutivos (desde as autárquicas de 1993) e no total, desde 1976, leva 40 anos no poder autárquico da maior cidade dos Açores. Esta tem sido a vontade da maioria dos eleitores! Em Democracia, já que durante o debate foi recordada pelo moderador a existência de uma música [de Paulo de Carvalho] em que se diz que “10 anos é muito tempo”, convém ter presente uma outra música, bem mais famosa, do grande Zeca Afonso, e que a certa altura reza assim: “o Povo é quem mais ordena”. Por isso, a terminar, fica a pergunta feita pelo Presidente Vasco Cordeiro: quem tem medo da democracia?!