A Porto Editora revelou, no início do corrente mês, a lista de dez palavras candidatas a “Palavra do Ano de 2020”. Esta iniciativa decorre, ininterruptamente, desde o ano de 2009. A votação, a efetivar no site da editora, termina no último dia do ano e o “vencedor” é revelado no dia 4 de janeiro de 2021. O ano passado, recorde-se, a palavra vendedora, tendo obtido cerca de 28% do número total de votos, foi “violência doméstica”. Este ano, as dez palavras candidatas a Palavra do ano de 2020 são: Confinamento; Covid-19; Discriminação; Digitalização; Infodemia; Pandemia; Saudade; Sem-abrigo; Telescola e Zaragatoa. Como facilmente se constata, direta ou indiretamente, o ano de 2020 fica marcado pelo maldito vírus. Nas palavras, nas ações e em tudo. A verdade é que, desde março de 2020, a nossa vida mudou. E de que maneira! Por isso, votei na palavra “pandemia”. As coisas simples do dia a dia passaram a ter uma importância que desconhecíamos. Fechamo-nos em casa. Instalou-se um verdadeiro caos. Passámos a ser bombardeados com informação, ao segundo, sobre número de casos e óbitos em todo o mundo. Simultaneamente, descobrimos que havia dezenas e dezenas de especialistas sobre “uma coisa desconhecida”. Tivemos de nos adaptar. Pediram-nos a quadratura do círculo entre família e teletrabalho. As casas foram transformadas em colégios, creches, salas de aulas, escritórios, gabinetes, parques infantis, campos de futebol, pistas de ciclismo, etc… etc… Um dia parecia uma eternidade. A falta de liberdade, de espaço, de convívio pessoal e profissional parecia levar-nos à exaustão psicológica. O mundo, vivido através dos ecrãs dos computadores, tablets, telemóveis e televisões, é um mundo triste. Rapidamente chegámos a esta conclusão. Tal como rapidamente nos fartámos de encomendar tudo online ou por telefone. As idas à rua cingiam-se, quase em exclusivo, a colocar o lixo. Nem sei se chegaram a ser dois meses completos nisto. A verdade é que foram tempos intermináveis. E psicologicamente muito duros. Dizer-se que “o ser humano não foi feito para estar fechado” deixou de ser um mero chavão, inclusivamente criticado por quem adorava estar o dia todo de pijama entre o quarto, a cozinha e a sala, e passou a ser uma verdade universal. O confinamento que nos foi imposto, em nome da salvaguarda e preservação da saúde pública de todos nós, e que inicialmente foi bem aceite, passou pouco tempo depois a ser um autêntico martírio. Os governantes perceberam que não era possível manter boa parte da população numa redoma por mais tempo. O País, este ou outro qualquer, não aguentaria muito mais. Por isso, mesmo com a vacina, a tão desejada vacina, a ser pouco mais do que uma luzinha ao fundo do túnel, o País foi gradualmente voltando à normalidade. À nova normalidade! De máscara, com distanciamento, com muito álcool gel e todos os cuidados possíveis. E aqui estamos, apesar das dramáticas perdas que muito se lamentam. A uma semana de acabar um ano que queremos apagar da memória. Um ano que nos demostrou, cruelmente, como é tudo tão relativo… Que em 2021 sejamos felizes. Com saúde para todos!