Opinião

Desafio

No último domingo, ocorreram as eleições mais singulares da nossa Democracia. Num contexto de pandemia, com o Continente em confinamento geral, teve lugar a segunda volta de Marcelo.
Relativamente à abstenção, ela não correspondeu aos cenários mais pessimistas, e revelou um importante espírito cívico dos cidadãos, não distorceu os resultados esperados e começa-se a compreender as entorses da abstenção técnica, introduzidas pelo automatismo do cartão de cidadão, bem como as distorções causadas pelas dificuldades logísticas do voto dos emigrantes.
Os resultados correspondem às sondagens. Como é da praxe, um reforço da votação do recandidato, que fez uma corrida voluntariamente solitária. A candidatura situada na área da esquerda democrática, ficou em segundo lugar, seguindo-se a candidatura da extrema-direita, que extravasou todos os condimentos e rituais folclóricos da dita. As candidaturas apoiadas pelo PC e BE revelaram uma deficiente compreensão da atual correlação de forças e obtiveram resultados em conformidade.
A "colagem" dos partidos da direita democrática à vitória de Marcelo, embora sendo a reclamação do prémio de consolação possível, adere mal à realidade e não disfarça a verdadeira mensagem do resultado. Que só confirma a posição de centralidade incontornável do PS no nosso sistema partidário, e o pesado dilema que enfrenta a direita clássica. É que o resultado alcançado pelo terceiro, embora nunca seja automaticamente transferível para o seu partido, indicia uma reconfiguração da direita, que ameaça PSD e CDS, que a ela não têm sabido responder.
E a continuar esta tendência, não será exagerado dizer que votar PSD é o mesmo que levar o Chega para a maioria e o Governo. O centralismo achou mesmo que "o barbeiro experimenta na barba do tolo", e conhecemos bem o ensaio precedente...