Opinião

É puxar o fiozinho…sff

Como em tudo na vida, há que encontrar aquela oportunidade quando tudo é mau, um pesadelo. Assim foi, assim é, assim será. E o fiozinho, do ensino, ei-lo à mostra: a aproximação às famílias a que este monstro obrigou. Que alguém lhe pegue, se faz favor, que o agarre bem, hoje, agora, não depois. Dois dedinhos, basta, que mais não seja. Nunca, como hoje, houve um tão aprofundado conhecimento das mais diversas famílias dos nossos alunos, das pessoas e dos obstáculos reais por detrás de cada um deles. Nunca, como hoje, o professor titular, o diretor de turma e os mais diversos órgãos escolares estiveram tão perto de conhecer as reais necessidades dos seus alunos, apesar de também nunca, como hoje, o professor titular, o diretor de turma e os mais diversos órgãos escolares estiveram fisicamente tão longe da grande maioria dos seus alunos. É, na verdade um paradoxo, mas uma coisa levou mesmo à outra. E lá está, como em tudo na vida, há caminhos insuspeitos que levam mesmo a lugares inesperados. Mas que descobertos seus princípios, teorias e imaginações emergem sobre os seus possíveis destinos. Até no espaço sideral. Há teorias que o defendem e que o demonstram. Enigmáticos buracos negros não serão mais do que atalhos a outros pontos do nosso próprio universo, em hipótese, ou até a outros mundos, outros universos, talvez maiores, desmesuradamente maiores, ou mais belos, desmesuradamente mais belos, ou então, ou então nada disto, nada mesmo parecido com isto, nada lá perto. Mas à primeira clareira do cosmos, este caminho, para o qual fomos empurrados pelo abominável monstro pandémico, já nos levou. E nessa clareira primeira, exaustos, isolados, perdidos, aproximámo-nos naturalmente uns dos outros, pondo abaixo muralhas, muitas delas seculares. A aproximação entre a escola e as famílias não tem sido natural. Apesar de crucial, muito pelo contrário. A palavra escola não tem mesmo feito parte de um agradável conjunto de palavras quando delas nos lembramos, lugar que deveria ser seu, talvez até com liderança. A palavra escola, de modo algum tem sido proferida com a conotação positiva que lhe é devida. Praia, Pizzaria, Oceanário, Cinema, Natureza, Zoológico, Pastelaria, ...Escola. De modo algum. E eis a oportunidade. Eis quer e ganha uma posição, reconquista mesmo um sorriso, geral. Quem nós desejamos que o desejem, já desejam - os alunos da escola. E os pais, os encarregados de educação, as famílias, também na sua generalidade, deixaram cair muitas das dúvidas de que a escola é hoje - e ainda tal e qual no modelo em que funciona - um valor de importância desmerecida, de importância esquecida. É muito mais do que um espaço físico, sabemos, mas também reaprendemos de que a existência física do espaço é capital.
O aluno e a escola. Afastámo-nos muito, muitíssimo, demasiado, mas conhecemo-nos agora de outro modo e ambicionamos o regresso. Assim que os portões se encerraram, a comunidade quis entrar. Poderoso. E é este o ganho. E é esta uma das profundas oportunidades ao sistema de ensino que o caos nos trouxe, que o animal nos legou. Não única, mas enorme, se alguém o agarrar, ainda que com dois dedinhos, e então puxar o fiozinho. Se faz favor.