Passaram cem dias de funções do Governo Regional dos Açores.
E em apenas cem dias são muitos os exemplos das contradições, incoerências, erros, omissões e incapacidades deste novo Governo. Não haveria espaço nos caracteres deste artigo para enunciar cada um desses exemplos. É, por isso, que julgamos não haver melhor forma de assinalar cem dias deste estranho novo Governo Regional do que relembrar um pertinente texto do Deputado Paulo Estêvão, Presidente do PPM Açores, Partido que integra a coligação de Governo, escrito há poucos meses, sobre o perfil e modus operandi do actual Presidente do Governo.
Paulo Estêvão, há poucos meses, escrevia o seguinte:
"José Bolieiro não é homem que parta para o confronto direto. Para uma discussão franca, olhos nos olhos. Esconde-se sempre atrás de sofismas, de anagramas, de mensageiros encapuzados e de uma atitude dissimuladamente cavalheiresca, ditada apenas pela incapacidade de se manter de pé no quadrilátero. O seu discurso vazio e redondo não aguenta o contraditório do adversário. É por isso que evita a crítica direta e transmite as suas ideias através do código ambíguo de um ressuscitado Oráculo de Delfos.
Mas os resultados da gestão autárquica de José Bolieiro, de natureza meramente contemplativa, permitem-nos concluir outra coisa. Para além de não ter um verdadeiro projeto político e de não estar disponível para fazer oposição ao Governo Regional socialista, a sua gestão em Ponta Delgada prova que não é homem para concretizar as grandes e urgentes reformas que a Região necessita.
Os Açores necessitam de uma liderança política corajosa, dinâmica e reformista. Em vez disso, José Bolieiro oferece um perfil político dândi. É notoriamente incapaz de introduzir qualquer transformação ou reforma nas coisas que gere. Repete apenas as velhas lengalengas de outrora e exerce de anfitrião nas bolorentas danças de salão. Tudo nele recorda um passado que já teve o seu tempo e que ninguém deseja re-editar neste século.
José Bolieiro tem um mantra, que repete quinhentas vezes em cada entrevista, no qual deposita o essencial das suas esperanças de sucesso. Diz que quer promover a "alternância democrática". Isto dito por um político que preside a uma autarquia que não conhece qualquer alternância política desde 1993 - e que defendeu, até ao último cartuxo, a manutenção da longa hegemonia de duas décadas do seu próprio partido no governo regional (1976-1996) - é uma coisa tão cínica e incongruente que nem vale a pena insistir no assunto."
Esta apreciação de um dos mentores da coligação permite perceber o que está na base da acção (ou falta dela) deste novo governo.
Estes cem dias evidenciam, assim, que o "casamento de conveniência" que levou à formação do novo Governo Regional, motivado em grande medida pelo ódio ao Partido Socialista, não tem por base um projecto político governativo consistente, devidamente preparado, progressista e capaz de responder aos complexos desafios com que estamos confrontados, quer do ponto de vista estrutural, quer do ponto de vista conjuntural, tendo em conta os impactos económicos e sociais da pandemia que infelizmente nos assola.
Tem por base tácticas partidárias circunstanciais que poderão custar muito caro ao presente e ao futuro dos Açores.