O Presidente do Governo, José Manuel Bolieiro, decidiu recentemente escrever à Comissária Europeia para a Saúde e Segurança dos Alimentos, Stella Kyriakides, solicitando uma “intervenção direta na disponibilização de vacinas num número que permitam a imunização universal das nossas populações”.
Esse simples ato de alguém que é, simultaneamente, Presidente da Conferência dos Presidentes das Regiões Ultraperiféricas da UE representa uma visão “pedinchona” e vitimizadora da ultraperiferia, ao mesmo tempo que mesquinha e perigosa para o conceito de coesão económica e social tão fundamental para a defesa deste estatuto e das vantagens de que os Açores e as restantes RUP usufruem no quadro da União Europeia.
Não nos interpretem mal. Tal como todos os açorianos, portugueses, europeus ou cidadãos do mundo queremos ser vacinados e rapidamente, pois essa é, na atual conjuntura, a melhor ferramenta para proteção dos efeitos do vírus SARS CoV 2 em cada um, mas também para debelar a pandemia como um todo e retomar algum sentido de normalidade. E obviamente queremos que os Açores possam concluir esse processo o mais rapidamente possível.
Todavia, ao escrever diretamente à Comissão Europeia o Presidente do Governo correu o grave risco de romper com solidariedade nacional nesta matéria que tem assegurado exatamente as vacinas que nos chegam – mesmo que a conta gotas e em número insuficiente (Bolieiro vai invocar os 6% vacinados com a 1ª dose a nível Regional, número não muito diferente do 7,57% vacinados no país!) – e esquecer a realidade do conjunto de regiões e Estados Membros que estão globalmente em situação idêntica.
É que o problema da provisão das vacinas não é sequer único da Região. Ou acham que nas regiões remotas da Finlândia a situação está melhor? Ou nas ilhas gregas? Não. Não está.
E enquanto a Região pode e deve pressionar para ter mais vacinas, dos lotes nacionais, ao mesmo tempo que ter critérios claros para a aplicação daquelas que lhe chegam, não pode, não deve tentar passar “à frente da fila” nem do país, nem das restantes regiões da UE. Isso só fará com que da próxima vez em que os Açores queiram defender algum aspeto da ultraperiferia outras regiões ou Estados Membros da Europa nos mandem para o “fim da fila”.
Para sermos ouvidos na UE a solidariedade e a coesão devem ser valores aplicados sempre e sobretudo em alturas de maior dificuldade. Fazer o contrário, como fez o Presidente do Governo, apenas para ser capa de jornal, destrói a compreensão de outros para com a realidade específica dos Açores."