Opinião

Cancelamento de exames comprova a realidade do inútil

As provas finais de ciclo do 9o ano e (alguns) exames no ensino secundário são, pela segunda vez, arrastados pela pandemia COVID-19, cancelados.

A decisão ministerial do cancelamento de provas finais de ciclo e (alguns) exames traz ao de cima aquela que é a realidade do inútil, como são as provas finais de ciclo do 9º ano e os exames no ensino secundário.

A primeira realidade do inútil, são as provas finais de 9º ano. Milhares de horas na elaboração das provas e outras tantas na correção, uma indiscritível pressão sobre os alunos para um momento único e um desprezo considerável no peso da nota interna do aluno. Onde fica o argumento da avaliação contínua?

A segunda realidade do inútil, são os exames do ensino secundário a diferentes disciplinas no 11o e 12o ano. Este ano, pela segunda vez, só haverá exames no ensino secundário para os alunos que pretendem ingressar no ensino superior. Ora, é a justificação em si própria da suspensão de uns e a manutenção de outros exames no secundário, que retira a sua necessidade e a responsabilidade do ensino não superior para a sua obrigatoriedade.

O modelo de ingresso no ensino superior está ultrapassado e servirá possivelmente a muitos, mas certamente não aos interesses dos alunos, desviando-os, pelos motivos errados, para os ensinos profissionais e profissionalizantes, face ao receio da realização de exames. E, aumenta o fosso da desigualdade entre alunos, isto porque nem todos têm capacidade financeira de pagar explicações para a preparação de exames.

Para o acesso ao ensino superior são mais do que suficiente as notas obtidas no ensino secundário. E, num futuro, que se avalie e valorize o histórico do aluno ao nível das suas competências cívicas e/ou desportivas - isto quando se estiver na presença de um modelo de sociedade que não permita incluir variáveis fantasmas que adulteram o mérito.

Das inúmeras lições que esta pandemia nos deixa, que uma delas seja o cancelamento definitivo das provas finais do 9º ano e os exames no ensino secundário. Se são dispensáveis agora, porque existem?

É muito mais do que uma posição ideológica, é uma posição lógica e centrada no aluno e a favor de uma sociedade inclusiva, cooperativa e de excelência. Contrariamente ao que se tenta “vender”, tal não se atinge com a tensão durante minutos concentrados num único momento. Atinge-se sim, formando e educando o aluno para desafios diversos, em grupo e individual e focados em objetivos transversais e não puramente do currículo escolar.