Opinião

Diferença

Quase cinco décadas depois daquele “dia inicial, inteiro e limpo”, somos um país e uma região profundamente diferentes. Não só em matéria económica e social, mas, sobretudo, pela construção de um horizonte de esperança que dissipou a “longa noite” e sobre o qual a minha geração – e as seguintes – se ergueram. Hoje, o Portugal democrático existe há tanto tempo quanto aquele que durou a ditadura. A tal que alguns saudosistas, cultores de um maniqueísmo perigoso, gostariam de ver regressar. Não haja ilusões. Aqueles que hoje apontam o dedo autoritário, e se fazem eleger com recurso à demagogia e à promessa de romper com o atual “estado de coisas”, não são amigos da democracia nem tampouco estimam abril e as suas conquistas. Apenas se aproveitam do desencanto com o muito que falta cumprir para uma tentativa de ajuste de contas com a História. Ainda que gritem “vergonha” à exaustão - e sirvam colheradas de indignação aos mais incautos - a maioria dos democratas não se deixará intimidar nem lhes cairá no regaço.