O processo de vacinação nos Açores não está a correr bem. Vários atropelos, indecisões, falta de coordenação, alteração de critérios sem que se perceba bem a sua razão, diferentes velocidades e critérios nas várias ilhas e comunicação pouco clara e errónea é o que temos assistido.
São muitos os exemplos concretos que comprovam isso.
Além disso, a gestão de expectativas por parte do Governo Regional, em nome de uma narrativa propagandística que não se coaduna com uma matéria tão importante como esta, não tem sido adequada.
Veja-se, por exemplo, o facto de o Vice-Presidente do Governo Artur Lima ter anunciado, em Abril, que a Região iria vacinar toda a população até final de Junho, compromisso nunca validado pelo Secretário da Saúde e Desporto que anunciou na passada quinta feira que "até ao final de junho, é expectável que cheguem aos Açores cerca de 130 mil doses de vacinas", sendo muito claro que o anuncio de Artur Lima está longe de ser exequível.
Das duas uma, ou os membros do Governo não falam uns com os outros sobre assuntos tão sérios, ou alguém omitiu informação ou mentiu.
É muito claro hoje, quer nos Açores, quer no resto do mundo, que o sucesso do processo de vacinação é indissociável do sucesso da estratégia de retoma e de recuperação económica e financeira que todos preconizam e precisam.
O Governo Regional decidiu criar uma comissão especial de acompanhamento e combate à pandemia de covid-19 com a responsabilidade de coordenação de todos os procedimentos nesse âmbito.
Agora, além disso, ficámos a saber, pela voz do Secretário Regional da Saúde e Desporto, que o Governo vai contratar mais uma "pessoa externa que vai ficar responsável pelo processo de logística na vacinação", tendo em conta o expectável aumento de chegada de vacinas à Região.
Ora, se este anúncio denota a falta da planificação necessária para um processo destes, comprovada com todos os problemas a que diariamente assistimos, é também um desrespeito pelas pessoas e entidades que existem na Região, que já deveriam estar envolvidos na coordenação da vacinação há muito tempo.
A entidade que, por excelência, deveria ser uma task-force para a coordenação de todo o processo de vacinação na Região é o Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores.
Tendo em conta os meios de que dispõe, a experiência, a qualificação das pessoas, o conhecimento do terreno e a abrangência regional através das 17 corporações de bombeiros que existem, parece-nos óbvio que esta decisão deveria estar tomada há muito.
Aliás, o Decreto Legislativo Regional que define o Regime Jurídico do Sistema de Proteção Civil da Região dá todas as condições e respetivo enquadramento legal para que isso possa acontecer.
Nada temos contra a vinda de pessoas de fora para dar o seu contributo à Região, seja em que matéria for. O seu local de nascimento e de origem não releva para a apreciação que fazemos. Releva sim a competência, capacidade e cumprimento dos objectivos definidos.
Mas há matérias em que o conhecimento aprofundado da nossa realidade e as incontornáveis especificidades regionais devem condicionar determinadas opções. A vacinação nos Açores é uma delas, pelo que nos parece evidente que a coordenação destes procedimentos deve ser entregue ao Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores e corporações de Bombeiros que com um apoio financeiro específico do Governo e em articulação com as Unidades de Saúde de Ilha teria meios, competência e capacidade para coordenar devidamente este processo.