Opinião

A propósito da instrumentalização partidária do Parlamento e de Fair Play

Não é o desgaste das cadeiras de uma das salas de comissões da ALRAA nem a água ou a luz que os “apresentadores” da candidatura autárquica do PSD/CDS-PP/PMM gastaram que fazem desse momento um problema. Quem decide analisar a questão desse ponto de vista incorre numa menorização pouco recomendável do primeiro órgão de Governo Próprio da nossa Região.

O problema é o tom, a postura, à laia de “donos disto tudo”, o regresso de hábitos bolorentos do século passado em que, por vezes, as instituições confundiam-se com sedes do partido. A leviandade com que se instrumentaliza a sede da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores para apresentar uma candidatura a uma Câmara Municipal desrespeita o Povo Açoriano e a Autonomia. Não devia ser preciso lembrar, nem chamar à atenção. Seria esperado de quem tanto tem apregoado a despartidarização de tudo e mais alguma coisa, existindo ou não partidarização de alguma coisa.

Aliás, basta imaginar o que diriam os quatro protagonistas desse momento, José Manuel Bolieiro, Artur Lima, Paulo Estevão e Carlos Ferreira se, em algum momento, Vasco Cordeiro, enquanto líder do PS Açores, se tivesse sentado numa das salas do Parlamento para apresentar, em conferência de imprensa, uma candidatura do seu partido ao quer que fosse.

Só mesmo quem está obstinado pelo poder se pode esquecer de regras básicas e democráticas como estas.

Mas relativamente ao outro conteúdo, também não se esperava ver o candidato à Câmara da Horta ali subjugado a três líderes partidários regionais a assumir-se como um candidato puramente dos partidos da coligação de Governo. Coligação essa cuja sobrevivência vai dependendo, como sabemos, do estado de humor de André Ventura e da evolução dos seus jogos político-partidários com Rui Rio.

Contrariamente ao que pretende fazer passar, esta candidatura assenta numa manta de retalhos geradora de instabilidade e que contrasta, em absoluto, com a independência partidária tão enaltecida, noutros tempos, por Carlos Ferreira.

Já percebemos que o deputado do PSD/Faial e candidato à Câmara da Horta lida mal com a crítica política porque quando se refere a “alguns que não têm Fair Play”, está a referir-se a quem, legitimamente, lhe faz críticas políticas. Sim, políticas e nunca mais incisivas do que aquelas que o próprio também fez, e faz, aos seus adversários. Talvez não esteja é tão habituado a ter reciprocidade.

Mas o que é lamentável é que também não tenha vestido a capa de provedor do Fair Play e erguido a voz quando, num passado bem recente, o terrorismo político nas redes sociais predominou, onde as desonras e ofensas pessoais a gente desta terra que integrava projetos do Partido Socialista e de outros, foram uma constante, sem que, nesses momentos, tivesse pedido qualquer Fair Play e, acima de tudo, respeito pelos próprios e pelas suas famílias!

Não basta apregoar que se faz, é preciso praticar! Antes de se exigir dos outros, é preciso exigir de nós próprios!