Opinião

Ópio do povo

Que comece rapidamente o Euro 2020… ainda que jogado em 2021. O nosso país, incluindo os órgãos de comunicação social, precisa desesperadamente que a bola comece a rolar. E, preferencialmente, que Portugal consiga chegar ao Estádio de Wembley. Em Londres, e no mítico Wembley, jogar-se-á, a 11 de julho, a final do Euro 2020. É verdade que uns dias antes, a 6 e 7 de julho, também será o palco das meias-finais. Mas, para a cabal defesa da sanidade mental de um Povo, dava mesmo um jeitão repetir o percurso de 2016. E, bom, bom, era termos um “novo Éder”! Portugal precisa, desesperadamente, reitero, de um mês de bola. De manhã à noite! O futebol, como alguém descreveu há muitos anos, é o “ópio do povo”. E o povo, aqui incluindo os responsáveis políticos, precisa discutir, durante horas, coisas tão importantes como uma falta a meio-campo que acaba numa jogada decisiva; na intensidade do toque que teve na origem do penalti aos 95 minutos; na intervenção desastrada do VAR; na tática “a medo” do sr. Eng. Fernando Santos; na dependência do Ronaldo; na opção pelo A que joga no clube Y, em vez do B que joga no meu clube e que é muito melhor; nas substituições erradas; na sorte ou no azar… Esta discussões, na mesa do café (desde que não localizado em Ponta Delgada ou Ribeira Grande) ou num dos múltiplos estúdios de televisão com especialistas para todos os gostos e feitios, é um verdadeiro bálsamo face aos últimos acontecimentos…

 

I

Por cá, após umas belas férias (?) do ilustre coordenador da comissão especial de acompanhamento da luta contra a pandemia de Covid-19 nos Açores, apenas interrompidas por uns bitaites (quase) diários na Sic Notícias sobre factos e dados referentes ao território continental, tivemos direito a mais uma intervenção com recurso (metafórico) a sinais de trânsito. Desta vez, ou melhor, mais uma vez, foi mostrado um sinal de STOP aos empresários da restauração de Ponta Delgada e Ribeira Grande. Agora, em pleno processo acelerado de vacinação e com turistas já a se fazerem notar por São Miguel, temos uma decisão política, com roupagem aparentemente técnica, de encerramento a partir das 20 horas dos bares e restaurantes. Digo aparentemente técnica, porque confesso a minha dificuldade em perceber os horários preferenciais do maldito vírus. Aguardo, por isso, com ansiedade, o estudo científico que demonstre que o mesmo tem “pendor notívago”… e apenas em determinados espaços comerciais!

 

II

Pela capital do império, após a novela do expetável festa do título do Sporting Clube de Portugal e da marquise do Ronaldo, temos, novamente com a Câmara Municipal de Lisboa (porque será?) como protagonista central, o caso do envio dos dados pessoais de ativistas, o qual arrisco terá como nome de operação “Putin é quem mais ordena”. Recorde-se que a Câmara de Lisboa fez chegar às autoridades russas os nomes, moradas e contactos de três manifestantes russos que, em janeiro, participaram num protesto, em frente à embaixada russa em Lisboa, pela libertação de Alexey Navalny, opositor daquele Governo. Esta ação, que desconheço o respetivo autor; a que título e o propósito da mesma, já levou o Presidente da Câmara, Fernando Medina, a pedir desculpas públicas pelo sucedido e referindo que “foi um erro lamentável que não podia ter acontecido”. A verdade é que aconteceu e aconteceu em plena pré-campanha eleitoral. O que, não duvidando da inexistência de culpa e dos princípios democráticos de Fernando Medina, levará o jogo para campos perigosos…