Opinião

Estranha noção de Democracia do Governo Regional!!!

Ainda nos está na memória a entrevista de Paulo Estevão, líder do PPM, ao jornal Diário Insular, poucos dias depois das últimas eleições regionais do passado mês de Outubro, em que afirmava que a Democracia Açoriana estava forte e pujante, quando nos 20 anos anteriores afirmava sistematicamente o seu contrário. Na visão de Paulo Estevão, enquanto os eleitores conferiam maiorias absolutas ao Partido Socialista havia pouca democracia, quando os eleitores deram maioria relativa ao Partido Socialista, que permitiu à coligação de direita formar governo, afinal a democracia "está bem e recomenda-se".
Esta visão perigosa e maniqueísta, manifestada por Paulo Estevão mas transversal a todo o Governo, parecendo de menor importância, é muito relevante porque condiciona, todos os dias, a forma de agir e de trabalhar do Governo, bem como a concepção do que é ou deve ser o espaço público no âmbito do debate e escrutínio em torno do presente e futuro colectivo de todos nós.
Verifica-se uma visão unilateral das dinâmicas democráticas. Para o Governo, essas dinâmicas só são relevantes se forem boas e positivas para a acção governativa.
São vários os comportamentos, episódios e acções do actual Governo Regional e dos partidos políticos que o compõem que evidenciam uma noção estranha e sui generis sobre o que é a democracia e o que deve ser o debate público em torno das políticas públicas aplicadas ou a aplicar na Região.
A censura ao jornal Açoriano Oriental sobre um título escolhido para uma notícia sobre os impactos da pandemia, por parte do Coordenador da Comissão para o controlo da pandemia Gustavo Tato Borges;
As posições permanentes de vários membros do Governo que lidam mal com a crítica e com as questões legitimas que lhes são colocadas, sendo o expoente máximo dessa postura o Secretário Regional da Saúde e Desporto que tenta transformar qualquer critica política ou questão que lhe sejam feitas em "ataques pessoais" ou "em desagrados com boas noticias";
As notícias recentes de pressões e ameaças veladas aos cidadãos que, legitimamente, entendem integrar listas do Partido Socialista nas eleições autárquicas deste ano;
A composição de júris de concursos públicos para cargos na administração pública integralmente composto por pessoas nomeadas pelo actual Governo e, por isso, sem a abordagem técnica que sempre existiu;
A chantagem pública de membros do governo onde afirmam em sessões partidárias que determinadas obras só serão feitas numa freguesia caso o Partido Social Democrata ganhe as eleições para a Junta de Freguesia;
São apenas alguns exemplos de um modus operandi que não traz nada de bom e que evidencia essa visão perigosa e sectária.
Neste contexto, sempre que vemos José Manuel Bolieiro vir a terreiro afirmar que tem grande humildade e espírito democrático, relembramo-nos do provérbio: "Bem prega Frei Tomás, olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz".
Vivemos, felizmente, numa democracia madura e consolidada há mais de 45 anos, construída por muitas gerações de açorianos.
Não pode haver regressões nesse caminho. Isso só é possível com uma visão ampla e institucional do que é e para que serve a Democracia, independentemente de quem está no poder e de quem é a oposição, sendo bases intocáveis e inegociáveis nesse processo a Liberdade e o direito inalienável à critica e ao contraditório.
Não sendo assim...perderão as novas gerações e perderemos todos enquanto Povo...