Opinião

A fanfarronice floresce, mas não dá pão

Ontem, entardecemos com a notícia da redução do número de vacinas e anoitecemos com os dados atualizados disponibilizados pelo INSA, constatando-se que a variante Delta cavalga nos Açores. Na semana de 21 a 27 de junho (últimos dados disponibilizados) esta variante representava nos Açores 64,7%dos infetados com COVID-19 e foi aqui nos Açores onde mais cresceu.
Ainda ontem ouvimos a legítima preocupação dos empresários de São Miguel quanto ao atraso na implementação do Plano de Recuperação e Resiliência (mais conhecido como Bazuca) e a insatisfação com a instável e incipiente evolução do turismo. Já hoje, mostraram-se apreensivos com os impactos do recuo na vacinação face aos efeitos no pretendido processo de recuperação económica.
Mas sobre estas novidades o que dizer? Talvez começar por dizer que o que têm de novo não é bom.
Mesmo para os apreciadores de queijo de São Jorge (e eu sou uma delas) não é fácil esquecer a conferência de imprensa, há pouco mais de um mês, em que se anunciou vacinas a rodos. Eram tantas que justificavam a contratação de um perito em logística. Sobre vacinação já se disse uma coisa e o seu contrário vezes sem conta. Sabemos que há um conjunto de imponderáveis. Mas saberá o Governo melhor do que nós que havendo imponderáveis não deve, não pode avançar com dados e com datas que não controla. Isto não é um tabuleiro de xadrez, em que uns avançam e recuam, outros andam na diagonal e outros nem aparecem. Há pessoas, famílias e empresas que dependem da ação e inação de quem supostamente lidera este processo. É imperioso eliminar os fatores de instabilidade introduzidos pelo próprio Governo.
E desenganem-se se pensam que isto vai lá com Fado, Futebol e Fátima. A regra dos 3 F's aqui não se aplica. Não adianta dissimular. Não adianta disfarçar. A insipiência está à vista de todos.
Atente-se a gestão (ou não) dos recursos a disponibilizar pelo Plano de Recuperação e Resiliência: 1) A 29 de maio de 2021 o Governo da República estabeleceu o modelo de governação nacional para o Plano de Recuperação e Resiliência Português. 2) A 15 de junho de 2021 o Governo Regional da Madeira estabeleceu o modelo de governação dos investimentos regionais incluídos no PRR. 3) A 16 de junho de 2021 a Comissão Europeia aprovou o plano de recuperação e resiliência de Portugal no montante de 16,6 mil milhões de euros dos quais 580 milhões de euros para investimentos nos Açores.
E o Governo dos Açores já definiu quem faz o quê? Como vai gerir estes recursos? Até à data não foi estabelecido o modelo de governação destes investimentos nos Açores, sendo evidente que a inércia do Governo pode prejudicar o alcance dos objetivos e resultados previstos, inviabilizando, no limite, a transferência de verbas da União Europeia. E a verdade é que não só não está definida a forma de gestão desses recursos como não se conhecem diligências para esse efeito, nomeadamente a imprescindível auscultação dos parceiros sociais.
Finalmente, a conta gotas vamos conhecendo as orgânicas dos departamentos do Governo. A conta gotas para esconder que as mais atrasadas são a das Finanças (com responsabilidade na administração pública) e a da Presidência do Governo (que devia dar o exemplo). Sobre estas orgânicas muito ainda se dirá. Mas até agora o prémio da insensatez vai para o encerramento das Agências para a Qualificação e Emprego de Angra e Horta. Vivendo o momento que se vive, com a escalada do desemprego, a necessidade de apoiar as pessoas e no limite também as empresas o Governo decide encerrar dois serviços que prestavam um serviço fundamental.