Opinião

Eleições e nomeações

Autárquicas - Razão tinha Vasco Cordeiro em recusar, ao longo de toda a campanha para as autárquicas, a intenção da direita e da extrema direita de transformar estas eleições numa segunda volta das regionais.
Artur Lima e José Manuel Bolieiro não se fizeram rogados na noite eleitoral e logo se apressaram em afirmar que os resultados das autárquicas “fortalecem a coesão do governo e que os açorianos reconheceram que uma solução de governo plural funciona”. Eles lá sabem porque é precisam de um impulso à sua coesão. Mas as eleições autárquicas não servem para isso. Resolvam lá os seus problemas e respeitem a autonomia do poder local.
Artur Lima lançou-se já para as próximas legislativas regionais, tratando de salvaguardar, com a devida antecedência, uma coligação pré-eleitoral com o PSD.
Paulo Estêvão sai completamente derrotado. Apesar dos inúmeros esforços em que até membros do Governo se envolveram, José Silva, Presidente da Câmara e candidato do PS, venceu a coligação CDS-PPD-PPM com uma diferença de quase 25 pontos percentuais.
Como socialista, digo que cumprimos nos números, continuamos a ser o partido mais votado, mas não lográmos o sucesso que desejávamos. Esse sucesso não é um fim em si mesmo, mas apenas o caminho para uma gestão autárquica que possa responder aos desafios do presente e do futuro sem hipotecar os princípios da solidariedade, da justiça social e da igualdade de oportunidades para todos.
O povo assim não entendeu e a sua vontade deve ser escrupulosamente respeitada. Desejo, por isso, a todos os eleitos, que o seu sucesso eleitoral se traduza no progresso e bem-estar das comunidades cujos destinos estão agora nas suas mãos.

Tantos - Teve lugar, na última terça-feira, na Assembleia Legislativa, uma sessão de perguntas ao Governo, com resposta oral, suscitada pelo Grupo Parlamentar do Partido Socialista. Porque acho que a matéria é demasiado importante para ser rapidamente esquecida, deixo aqui algumas notas, não sem antes lembrar que as perguntas com resposta oral ocorrem quando os requerimentos apresentados ao Governo não tiveram resposta. Nada mal para quem passa os dias a apregoar transparência.
O Governo da coligação apoiado pela extrema direita tem mais 59 cargos governativos do que o Governo anterior, do Partido Socialista. O Governo da coligação apoiado pela extrema direita extinguiu lugares de chefia, preenchidos na sua grande maioria por trabalhadores já em funções públicas (só em dois casos não era assim) e mediante concurso público. Em troca, procedeu a mais 95 nomeações para cargos políticos do que o Governo anterior, do Partido Socialista. Disse o Secretário Regional das Finanças que o Governo Regional tem todo o direito de se organizar de acordo com as suas orgânicas, competências e nomeações. Tem toda a razão. O problema não é de ter ou não ter direito. O problema é quando as ações não traduzem os compromissos assumidos, como é o caso. Ou quando criticamos aos outros aquilo que dentro de portas achamos por bem fazer em dose acrescida.
A resposta do mesmo Secretário das Finanças à pergunta se o atual Governo é maior que o anterior, é um atentado à inteligência dos açorianos ao confundir, deliberadamente, membros do Governo, diretores regionais e subdiretores regionais com trabalhadores em funções públicas, empurrando a responsabilidade da dimensão do atual Governo Regional para os cerca 500 procedimentos concursais, iniciados em 2020, para contratação de trabalhadores para a função pública. Haja decência.