Opinião

Equívoco

Um dos equívocos da análise política atual prende-se com a excessiva tentação de recorrer ao elemento histórico para fundamentar cenários futuros. A ideia, por exemplo, de que o BE e o PCP serão penalizados nas próximas eleições legislativas e de que o PS estará à beira de uma maioria absoluta tem pouco a ver com uma interpretação dos acontecimentos recentes e mais com exemplos ocorridos num passado longínquo. A análise baseada no histórico subestima alguns factos essenciais: em primeiro lugar, as sociedades são dinâmicas e o voto responde a impulsos e a juízos formulados no presente; em segundo, entre uma eleição e outra, há uma miríade de variáveis que não são repetíveis. Por último, a tese de que o partido no poder sai beneficiado em eleições antecipadas provocadas pela oposição não só não tem correspondência prática com a realidade como obedece a uma lógica que sobrevaloriza as expectativas de um dos lados, em detrimento do outro. Ou seja, o inclinar o campo num sentido, tem precisamente o efeito contrário: mobilizar o adversário e desmobilizar aquele que, à partida, levaria vantagem. Veja-se o recente exemplo de Lisboa.