De lá, do continente, sabemos que o BE e PCP foram intransigentes e não permitiram que Portugal tivesse estabilidade política no próximo ano. Sobre as motivações destes partidos já por aqui tive oportunidade de manifestar a minha opinião. Mas há algo notável, quer no BE, quer no PCP, partidos de esquerda, referidos por vezes, como partidos da extrema-esquerda, estes não humilharam Portugal.
Por cá, nesta terra Autonómica, “Antes morrer livre, que em paz sujeitos”, fomos humilhados pelo eleito de um partido de extrema-direita, que não querendo perder o seu lugar, diz-se e contradiz-se, recua, embrulha e resmunga, humilhando os Açores.
Temos os representantes políticos que escolhemos ou que nos abstemos de escolher. O que nos representa é a da nossa inteira responsabilidade.
De lá, as afirmações de Rio eram suficientes para o CHEGA cessar o apoio ao governo de coligação regional; cá, as condições do CHEGA para cessar o apoio ao governo é o cumprimento de um acordo, acordo esse já rasgado pelo líder regional do CHEGA e anuncia no horizonte novo acordo, uma vez que o que garantia a estabilidade governativa era “abstrato”.
Tamanha trapalhada política que o Presidente do Governo deixa-se arrastar. O acordo depositado no Solar da Madre de Deus é abstrato?! Com essa abstração viabilizou-se o destino dos Açores para uma legislatura?
Ontem, há precisamente um ano, o XIII Governo dos Açores tomou posse, apoiado por um partido de extrema-direita. Hoje, estaremos a assistir à aprovação de um orçamento sem presente e sem futuro que dignifique os Açorianos.
Aconteça o que acontecer a 30 de janeiro, Rio e Rangel a cumprirem palavra, não contarão com o CHEGA e André Ventura voltará aos Açores para cumprir a sua ameaça e retirar o apoio ao Governo de Bolieiro. Se se concretizar, afigura-se um ano tenebroso para o Governo Regional, com parcas condições de ver viabilizado os seus projetos legislativos.
Porque Bolieiro não afirma os Açores em vez de afirmar o CHEGA?
Porque o PSD/Açores sabe que não tem condições hoje para ir a combate eleitoral e ganhar, nem mesmo em coligação. O Furacão Lorenzo, Agendas Mobilizadoras, Transporte Marítimo e Encaminhamentos de turistas, são dossiers mal geridos e que prejudicam os Açores, ensombrando as boas medidas da Tarifa Açores e da redução de impostos.
Eleições agora, quem beneficiaria? Iniciativa Liberal. BE manteria a sua representação, PAN e CHEGA dificilmente chegariam a eleger um deputado. O PS/Açores poderia voltar a ganhar eleições, desta feita com maior expressão de votos (não o suficiente para uma maioria) e com apoio parlamentar para governar. Quer com eleições daqui a um ano, dois ou três, o líder do PS/Açores tem o desafio de arrumar a casa e ser o rosto da confiança, credibilidade e coesão de um projeto político de futuro para os Açorianos.