Sexta-feira, Pacheco disse à turma: “rasguei o acordo velho e quero um acordo novo”. Aproveitou ainda para mandar um recado ao “Titi sentadinho no meio da sala” (forma utilizada pelo Sr. Deputado Pacheco para se dirigir ao Sr. Representante da República). Sem pejo afirmou que o acordo, que garantiu aos partidos, que perderam as eleições formar Governo não valia nada.
Pacheco apresentou como novas exigências: a remodelação do Governo, o fim da SATA Internacional, um apoio à natalidade de 1.500 euros por cada criança nascida (mas só para algumas) e também viaturas para (algumas) Associações de Bombeiros.
Pacheco exigiu um acordo novo porque, nas suas palavras, não teria medo de eleições.
A mando do chefe André Ventura, Pacheco chantageia Bolieiro. Na verdade, André Ventura usa Bolieiro para chantagear Rui Rio.
Pelo meio, Furtado (ex-Chega/Açores) rasga as vestes, dizendo que se Bolieiro fizer novo acordo com o Chega é ele que vota contra.
E o que diz Bolieiro? Os documentos estão fechados, não há alterações.
Este teatrinho perdurou por mais uns dias, enquanto por trás da cortina, às escondidas de todos, se tratava de silenciar Pacheco, acordando e cedendo pela calada às exigências. Só assim se garantia que Furtado fingia que não sabia do acordo, que Bolieiro não perdia a face e que André Ventura podia encher a boca dizendo que nos Açores é possível fazer acordos entre o Chega e o PSD.
E foi com este cenário que iniciámos o debate do plano e orçamento para 2022.
Durante dois dias e meio, Pacheco não abriu a boca. Não se trata de figura de estilo. Nem exagero. Esteve efetivamente em silêncio.
O Governo e os partidos da coligação simularam uma apresentação e discussão dos dois documentos estruturais, sem nunca responder à questão mais importante: quanto custaria o voto do Chega?
O Governo esteve vergado. Vergado perante a chantagem a que se sujeitou. Vergado perante as exigências colocadas à sua sobrevivência. Vergado pelo vexame nacional a que sujeitou os Açores e os Açorianos.
À laia de uma telenovela mexicana, assistimos, ao longo de semanas, à luta pelo papel principal. Os partidos com acordos firmados atropelaram-se em conferências de imprensa com anúncios de irrevogáveis votos contra. Qualquer um deles queria, à frente das câmaras, parecer o vilão, quando na verdade nenhum estava disponível para sê-lo.
Ao fim de 3 dias Pacheco quebrou o silêncio e, em direto e a cores, disse que chegou a acordo, por isso vota a favor. E Bolieiro, tal qual Pedro negou conhecer Jesus, continuou a negar ter havido acordo.
E é nesse momento que a telenovela mexicana passa a filme de terror. E a desfaçatez atinge o seu auge.
A transparência propalada e a centralidade do parlamento são trocadas pela opacidade dos acordos e pelo comando do Ventura de Lisboa.
E no meio desta brincadeira, estão os Açores. Estamos todos e cada um de nós.