Os ciclos da Natureza repetem-se invariavelmente, condicionando-nos e recordando um tempo não linear.
No inverno, é tempo de rememorar a inevitável renovação: de ano e de ciclo da natureza. Desde sempre, sob diversas vestes, mitos e religiões que foi e é assim.
Recorda-se quem, não cabendo nas hospedarias deste mundo, nasceu numa gruta ou num estábulo, tanto faz, e trazia uma mensagem perigosa: de radical igualdade entre os Homens, na sua dignidade; de haver dias em que é obrigatório descansar e contemplar a obra; da caridade ativa dever privilegiar os mais pobres e os que sofrem - e da paz ter caminhos ínvios, que podem implicar expulsar a chicote os vendilhões do templo.
E desses desígnios somos todos feitos - num caminho árduo sob escolhos, interpretações oportunistas, retrocessos e reavanços, aproveitamentos mundanos e interpretações farisaicas, a que também podemos chamar de civilização. Sendo sempre mais ou menos longa a distância entre proclamação e realidade, até porque a exigência prática vai-se refinando, rumo à perfeição possível.
A chamada aldeia global continua com sítios mal frequentados e velhos perigos que, sob novas formas, espreitam sempre: conflitos, refugiados, intolerâncias, desigualdades. A fome, a peste e a guerra continuam a atormentarmos, regressando sempre sob novas formas, e desafiando os nossos progressos e remédios, que parecem sempre precários.
Mas continua a valer a pena continuar a aperfeiçoar aquilo que nunca teremos por perfeito. Por cá, agradecendo o colorido que, antes do consumismo, já nos tinha chegado pelo "cerrado grande", faremos por libertar o S. Nicolau da multinacional Coca-cola; pelo que o presépio não escureça com tanta luz elétrica e para que o trigo continue a grelar, com ou sem renas. Porque resistir é, sobretudo, um ato de fé!
A todos, um grande Natal!