Em jeito de balanço, o mês de fevereiro é rico em estatísticas oficiais sobre várias matérias, que indicam o caminho percorrido pelas várias regiões do nosso país em áreas tão importantes como o emprego, o desemprego e mesmo o abandono escolar precoce.
As estatísticas oficiais produzidas por entidades credíveis, como o Instituto Nacional de Estatística (INE) e mesmo o Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA), são fundamentais para avaliarmos o desempenho das políticas e de forma fundamentada prosseguirmos ou ficarmos despertos para a necessidade de rever ou reorientar as políticas ou medidas que de alguma forma as condicionam.
A semana passada ficámos a conhecer o desempenho da nossa pequena economia insular em matéria de emprego e desemprego. Mais do que a fotografia do emprego e desemprego num determinado momento, os dados vindos a públicos permitem refletir sobre uma tendência positiva ou negativa e fazê-lo de forma comparada com o resto do país e com as várias regiões do país.
Em ambos os domínios os Açores ficaram a perder. Ficámos a perder em população empregada: menos 3.000 pessoas empregadas no terceiro trimestre de 2021 quando comparado com o mesmo trimestre de 2020. Ficámos também a perder em matéria de desemprego: cresce a taxa desemprego que passa de 5,5% no terceiro trimestre de 2020 para 8,2% no trimestre homólogo de 2021.
Acresce que em matéria de desemprego os Açores contrariam a tendência nacional de decréscimo da taxa de desemprego, superando o Continente (6,3%) e a Região Autónoma da Madeira(6,6%) e passam da região do país com mais baixa taxa de desemprego em 2020 para uma das mais elevadas em 2021.
Sobre isto o que dizer?
O Governo diz que as estatísticas não são fiáveis. Já ouvimos esta conversa duas vezes na Assembleia Regional. Na minha opinião, esta afirmação é o mesmo que enfiar a cabeça na areia ou querer que todos nós o façamos. Esta entidade e as estatísticas que produz foram credíveis para os partidos da coligação até novembro de 2020 e deixaram de o ser desde aí? Ou pior, não devemos considerá-las em matéria de desemprego, mas já em matéria de abandono escolar precoce devemos considerar? Isto porque no primeiro caso (desemprego) o desempenho foi desfavorável, e no segundo caso (abandono escolar precoce) a tendência foi positiva. E pasme-se, ambos os indicadores são, não só produzidos pela mesma entidade (INE), como decorrem da mesma amostra e, portanto, do Inquérito ao Emprego.
Aliás, em matéria de abandono escolar precoce de educação e formação, a coligação e o Governo, apressaram-se a afirmar que o decréscimo desta taxa ocorrido em 2021 decorre das medidas adotadas em matéria de educação pelo atual executivo.
Alguém acredita que o facto deste indicador, que é considerado pela Comissão Europeia como um dos principais indicadores da performance dos sistemas educativos, ter reduzido mais de 3 p.p. em 2021, decorre de alguma iniciativa tomada em 2021? Recordo que este indicador, de forma simplificada, mede a percentagem de homens e mulheres, entre os 18 e os 24 anos, que deixou de estudar sem completar o secundário. Alguém acredita que exista alguma medida em matéria de política educativa capaz de tal milagre em tão curto espaço de tempo?
Se não fosse cómico, seria trágico.