Opinião

Remodelação Governamental

O início da semana ficou marcado pela remodelação governamental, que tanta tinta fez correr ao longo de meses em que assistimos à retirada da confiança política a um secretário regional por parte de um parceiro da coligação, em direto numa reunião de comissão parlamentar, à retirada da confiança política e exoneração de um diretor regional por email e, claro, à extrema-direita a exigir, em comunicado ou em direto para as televisões, uma remodelação sob pena de retirada do apoio parlamentar.

Bolieiro disse que a remodelação ocorria por sua decisão e com as suas escolhas. Nas mesmas declarações em que disse que o único critério foi o da estabilidade política da Região. Ou seja, e ao contrário do que sempre afirmou o Presidente do Governo, o cenário, no seio da coligação e com os seus apoiantes parlamentares é, como sempre soubemos, de permanente instabilidade, mas tenta disfarçar-se o óbvio.

Numa tentativa de minimizar a importância do acontecimento, no prime time do telejornal, Bolieiro disse que “não há nada mais constante do que a própria mudança”. Um pensamento profundo.

Mas o óbvio é que o PSD, agarrado ao poder como lapa à rocha, não vê a enorme derrota política em que a remodelação se traduziu. Saíram quatro secretários regionais, todos indicados pelo PSD, e nenhum dos indicados pelos restantes partidos da coligação, apesar de, nalguns casos, ser evidente a necessidade de mudança.

Para o Presidente do Governo, esta foi uma remodelação para “fazer mais e melhor”. Eu aplaudo, até porque este é um slogan de campanha do PS.

Bolieiro disse, ainda, que a remodelação pretendia reforçar novas dinâmicas. Ou seja, o governo até tem dinâmicas novas, o que quer que isso queira dizer, mas elas são tão fraquinhas que já precisam de reforço.

A entrada de Berta Cabral é, por si só, ilustrativa da total incapacidade do PSD para atrair novos talentos.

Berta Cabral vai executar. Nem que seja os projetos, como foi o caso do museu desenhado por Niemeyer, cujo projeto custou mais de 700 mil euros, que entraram na execução orçamental. O museu, esse, nunca passou de projeto, mas em 2016, quando Bolieiro era presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, ainda estavam por pagar, desde 2010, 77.400 euros.

Ou então teremos obras como o Parque Urbano, uma decisão muito acertada, mas com muitas questões pelo meio. Por exemplo, condicionar-se o circuito pedonal, impedindo um percurso circular dentro do parque, para construir um mini golfe e uma clube house, que nunca percebemos para o que serviriam e que acabaram num restaurante.

Ouvi comentadores dizerem que a remodelação fortalece a liderança de Bolieiro. Não concordo.

A remodelação apenas demonstra que Bolieiro e o PSD estão cada vez mais reféns da outra direita e da extrema-direita. E isto não é bom para os Açores.

 

(Crónica escrita para a Rádio)