A comemoração justifica-se sempre, não apenas pela homenagem aos seus protagonistas e a todos os que se opuseram à Ditadura, mas sobretudo como balanço e sobressalto cívico e político para o que falta fazer e como corresponder aos novos tempos e aos novos desafios, para mantermos e ampliarmos valores como a Liberdade, a universalização de direitos e a igualdade efetiva de oportunidades, com mais justiça e solidariedade.
De há uns anos a esta parte, algumas forças inventaram a manobra dilatória, e o argumento pífio de, em abril… falarem de novembro. A manobra de diversão é óbvia, e a nula legitimidade histórica evidente.
Com efeito, Abril foi o acontecimento nascente de um movimento marcante da nossa História ainda presente. Tudo o que se lhe seguiu, inclusive algumas derivas de várias cores, tem de ser enquadrado no espírito do tempo e da História. Aqueles que foram seus protagonistas institucionais, que ficaram cá e que, quando preciso foi, organizaram a manifestação da Fonte Luminosa, não desmerecem Abril. Porque se bateram por todo o novembro, incluindo o vinte e seis, onde se cortou cerce a tentação de alguns espetadores em logo proibir partidos à esquerda. Como se vê, qualquer motivo é “jeitoso” para desmerecer Abril…
Abril tão perto de maio. Do dia mundial do trabalhador. A dignidade do trabalhador advém, numa confluência de correntes e tradições politico-filosóficas diversas, não apenas da sua essencialidade económica, mas como manifestação do valor e da dignidade humanas, cuja essência deve ser respeitada e compensada. Os direitos e a justiça no Trabalho são assim indissociáveis de uma verdadeira democracia e duma sociedade em busca de justiça.
Esse longo e inacabado processo de justiça e dignidade do trabalho confronta-se hoje com desafios e novas realidades, que sob o manto da modernidade e sedução tecnológicas, recolocam fundos e velhos dilemas de desvalorização e isolamento que urge, de formas também inovadoras, contrariar.