Num bonito texto no jornal Público, a jornalista Ana Sá Lopes evocou a memória de Mário Mesquita, jornalista e professor universitário que marcou de forma impressiva o ensino do jornalismo em Portugal. No texto, Ana Sá Lopes recorda o título de um dos livros publicados por este açoriano que foi, também, um dos fundadores do Partido Socialista: “O Estranho Dever do Cepticismo”. Esta frase continua a ser, nos dias de hoje, um hino ao jornalismo. Na espuma dos dias, em que quase tudo é tratado da mesma forma, em que se confunde, cada vez mais, opinião com factos, em que muitos dos que devem praticar esse “estranho dever”, se entrincheiram nas suas verdades absolutas, - em que, mais do que questionar, há uma espécie de vertigem, uma corrida pela afirmação, tantas vezes, fortuita -, é crucial regressar a este ensinamento. Mais do que marcar gerações de jornalistas, Mário Mesquita marcou, de facto, uma era do jornalismo que, hoje, infelizmente, está perigosamente ameaçada. Uma democracia saudável e esclarecida não sobrevive sem um jornalismo livre que, para o ser, tem mesmo que exercer o tal “estranho dever do cepticismo”.