Assinado por baixo. Quanto a isso, de acordo. De modo algum, por princípio, poderia eu entender de "como sendo de gente discreta" (em boa expressão Terceirense), estipular mais despesa em Plano de Investimentos do que aquela que, efetivamente, se saberia poder comportar. Excluídas uma meia-dúzia de personagens carregadas de desprezo pelo dia de amanhã (das do tipo que, querendo suicidar-se, não hesitariam em eleger a bomba atómica como a arma mais privilegiada para o efeito) e, eventualmente, mais uma outra meia-dúzia de génios da alta finança (daqueles tais eternos candidatos ao Nobel, altamente capazes de sustentar teorias já com três voltas à caixa de onde saíram também três vezes), ninguém discordará, certamente.
Ora, isto é uma coisa. Claramente, uma coisa. Outra, porém, e de enormíssima diferença, é esta capinha delicodoce do governo regional, permanentemente refugiado no argumento do "endividamento zero" para se escudar da sua própria incapacidade de gerir melhor o que tem. É à bruta e sem qualquer tato. Ou vai ou racha! Preocupante.
Muito preocupante o facto desta direita governativa não demostrar, na prática, o entendimento de que o único propósito minimamente lógico do dinheiro (assumida a sua inevitabilidade típica de um mal necessário) é a melhoria das condições de vida das pessoas. É para isso que ele serve, o dinheiro, para o bem das pessoas. E perverso é entendê-lo com um grau de importância superior às próprias pessoas. A ambição de um sistema rico de pessoas pobres. Um sistema que deseja enriquecer nem que para isso o faça às custas do empobrecimento das pessoas. Priorizando o cofre ao bem-estar das famílias.
Que dizer do silêncio de um governo regional que tem no bolso mais sensivelmente 50 milhões de euros do que o previsto (beneficiando do esforço de todos pelo pagamento de mais impostos), sem esboçar o mínimo gesto de intencionalidade em usá-los no apoio a quem deles mais precisa?
Que dizer de um governo regional que prefere optar por deixar as pessoas sem fonte de sustento no lugar de as manter com ocupação integrada e apoiada, muito naturalmente através de programas de inserção profissional e social, até ao momento em que as mesmas consigam a sua justa e merecida entrada no mercado de trabalho?
Que dizer de quem quer fazer confundir os (odiosos) oportunistas dos subsídios e apoios sociais (em tudo idênticos aos demais oportunistas de todo o tipo de fontes de rendimento), com a teoria de que os subsídios e os apoios sociais apenas servem para alimentar esses mesmos (odiosos) oportunistas?
Que dizer de um governo regional que deixa por executar quase um quarto dos 9,3 milhões de euros previstos para 2021 no apoio social escolar, muito a caminho de o repetir no presente ano económico, e que se manifesta, acima de tudo importado em ostentar espampanantemente a bandeira de que para o Plano de Investimentos do próximo ano se inscreveram 13 milhões para o efeito, com um crescimento de 22%?
Que dizer de um governo regional que beneficia de apoios europeus ao nível do que nenhum outro governo regional alguma vez terá sonhado (a ironia do destino a recair sobre quem tanto mal diz de todos aqueles malandrecos dos apoios) e que, por desastrosa gestão, ainda desperdiça muitos desses milhões, entretido que anda no jogo da perseguição a quem recebe menos de 100 euros pelo RSI?
Que dizer de um governo regional que se delicia a apaparicar a Cultura e o Desporto, enquanto no seu entretanto se vai (conveniente ou desinteressadamente) esquecendo de honrar os compromissos contratados com os trabalhadores destas áreas?
Que dizer de um governo regional que se orgulha de uma ótima estratégia de combate à desertificação ou, se preferirem, de um ótimo apoio à natalidade, e fá-lo através da concessão de até 1500 euros em produtos de farmácia de determinados concelhos regionais, excluídos que foram 7 dos 19 concelhos Açorianos (certamente identificados como tendo gente de sobra), e incentivando inclusivamente os progenitores das crianças já nascidas antes ainda do nascimento do próprio apoio?
Que dizer de um governo regional repentinamente generoso para com a gratuitidade generalizada das creches, apercebendo-se afinal de que a sua enorme bonomia até ao 13º escalão acabaria por não ter qualquer brilho na fotografia se comparada com a medida muito mais abrangente (e em vigor desde setembro!) do governo da República?
Que dizer de um governo regional que não podia fincar mais pé numa acérrima oposição à abolição das taxas moderadoras no Serviço Regional de Saúde argumentando que seriam valores muito pouco significativos para as famílias açorianas, sendo os mesmos, afinal, muitíssimo significativos para os orçamentos das unidades de saúde?
Que dizer de um governo regional que populisticamente se vangloria por uma baixa de impostos, nitidamente servindo apenas dois objetivos: enriquecer os mais ricos e enganar os mais pobres?
Que se não turvem as águas, propositadamente: gerir bem o bem público é saber destinar o que se tem para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Gerir bem o bem público não é destinar as pessoas na perseguição do objetivo de fazer crescer os valores do cofre.
Ao povo o que é do povo.