As Comissões Parlamentares de Inquérito, são sem dúvida nenhuma, um dos maiores e melhores instrumentos que as assembleias no nosso País têm para escrutinar o cumprimento de todas as leis. O poder que é confiado aos Deputados que pertencem a uma Comissão de Inquérito são poderes de investigação que vão muito além de um escrutínio normal à ação política de um Governo ou da própria Administração.
A justificação para a existências destas está estreitamente ligada a ações ou acontecimentos que, de alguma maneira, possam ter suscitado dúvidas na sua forma, no seu conteúdo ou até em ambas.
À parte disso, sendo as Comissões de Inquérito ferramentas políticas disponíveis, é natural que os partidos aproveitem politicamente os assuntos para tentar capitalizar a sua própria retórica.
Contudo, aquilo que, na minha opinião não deve acontecer é a prevalência deste segundo objetivo. A utilização deste instrumento legalmente disponível para impulsionar uma retórica que de outra forma não ganharia projeção é um erro que pode ter consequências para quem o faz.
Por tudo isso, eu acho estranhíssimo os principais responsáveis pela privatização da Azores Airlines quererem uma Comissão de Inquérito sobre o assunto que mais tem sido discutido em Comissões de Inquérito nos Açores ignorando por completo as consequências que isso pode ter no processo de privatização daquela empresa. Ou será que o objetivo é outro?
Caros ouvintes, as coisas não andam a correr bem e temos um Governo nos Açores a querer utilizar pela segunda vez em dois anos uma Comissão de Inquérito com o objetivo de tentar amplificar uma retórica que com a sua própria governação não consegue.
Se este Governo se preocupasse mais com a governação em vez de fazer oposição a governos passados, se calhar não precisavam de subterfúgios para tentar esconder o que está à vista de todos.
(Crónica escrita para Rádio)